sexta-feira, 3 de julho de 2009

Sobre vendas.


Ainda era cedo; cerca de 7:42 da manhã. Fernando já se encontrava em uma mesa de canto da pequena lanchonete escolhida pelo “Comprador”. Ele gostava de chegar cedo em seus encontros, não que esse fosse um encontro comum, ele não estava lá para tomar um delicioso café da manhã com alguma garota, ele estava lá a negócios, por isso tal horário e local. Quem poderia imaginar um transação dessa magnitude a essa hora e em um local tão pífio? Fernando saboreava um café preto, não muito forte, não muito doce, exatamente do jeito que sua velha avó preparava. Ele era um rapaz de pouca idade, aparentava ter seus vinte anos, suas vestes eram do tipo que o deixavam imperceptível na multidão, ele era o tipo que poderia entrar e sair desapercebido em todo tipo de lugar. Algo o incomodava, um certo par de olhos que não se desviavam da sua pessoa, eram da balconista, uma cabocla, de lábios grossos, cabelos cacheados e um belo par de seios, ela o observava com afinco. Fernando soltou-lhe um sorriso amarelo e logo desviou olhar de volta para seu café, isso foi suficiente, logo viu que a moça escrevia algo em um pedaço de papel e caminhava em sua direção, ele pensou “Droga! Logo hoje?”, a jovem cabocla passou ao seu lado e delicadamente pôs o papel sobre a mesa, era um simples guardanapo dobrado ao meio com uma marca de batom vermelho-escarlate, Fernando o desdobrou, estava escrito “Mayra, 8415-1623, me liga!”. Fernando abaixou sua cabeça por um instante, sua consciência pesa pelo que iria fazer, mas ele amassou o papel e o atirou para longe, demonstrando um certo desprezo, e fez com que seu ato fosse visível o suficiente para que a tal moça entendesse o recado. Uma olhada no relógio acusava que já eram 7:55 e o comprador já estava para chegar, Fernando preparava-se para o encontro, afinal seria a primeira vez que veria o tal comprador, ele já havia negociado com uma “Conduíte”, mas um dos termos que Fernando exigia era que o contrato de venda fosse assinado na presença do próprio comprador. 8:00, tão exato quanto um relógio suíço era o tal comprador misterioso, Fernando se espantou com a aparência do comprador, não se parecia em nada com o que esperava, em sua imaginação ele estaria a mesa negociando com um “Marlon Brando” ou coisa parecida, mas o comprador parecia apenas um jovem excêntrico, realmente se vestia bem o suficiente para ser notado em qualquer lugar, Fernando só reconheceu de imediato que esse era o comprador porque o mesmo trazia uma flor de papel na lapela, assim como haviam combinado. Assim que avistou á Fernando o comprador exibiu um sorriso simpático e cordial, achegou-se a mesa, cumprimentaram-se -Bom dia Fernando! Disse o comprador com um tom de voz quase robótico.-Ótimo dia. É realmente um ótimo dia. Fernando olhava fixa e curiosamente para o outro homem. Então se sentaram.
-Algum problema, Fernando? Perguntou.
-Não, não. É que finalmente nos encontramos e... preciso confessar que o senhor me surpreendeu, não imaginei que fosse tão jovem. Disse Fernando enquanto examinava a feição do outro homem, ele ainda duvidava que aquele fosse o misterioso milionário.
-Eu ouço isso sempre. Mas não se engane com a minha aparência, sou bem mais velho do que pareço.Disse com um leve sorriso na face.
-Será que eu poderia saber seu verdadeiro nome? Só por curiosidade. Afinal nem sei como me dirigir ao senhor!
-Primeiro, não precisa me chamar de “senhor”, segundo; meu nome é “Louis”, fique a vontade para me chamar apenas de “Louis”.
Fernando acenou positivamente com a cabeça e falou –Certo, Louis, apresentação feita, que tal irmos aos negócios então?
-Você é bem apressadinho, já pensou que talvez esse seja seu maior defeito?
-É o que minha mãe vivia me dizendo
. Solta um sorriso.
-Muito bem! Mas primeiro eu gostaria de tomar um bom café e o café daqui é ótimo. Mayra! Poderia me trazer uma xícara de café? Gostaria também? Fernando fez que sim com a cabeça, então Louis gesticulou com a mão de forma que fizesse a garçonete entender. Me diga uma coisa, Fernando. Por que você decidiu vender logo para mim? Nunca ouviu historias a meu respeito?
-Primeiro, caro Louis, eu sou cético e não acredito nessas “histórias para boi dormir” e segundo...
A garçonete o interrompeu, colocando as duas xícaras de café sobre a mesa.
-Adoro o café daqui. Disse Louis e ingeriu uma golada. Você já conhecia esse lugar? Ah, mil perdões, você falava...
-Sim eu dizia que... segundo... você é o único louco o suficiente para pagar tanto por “isso”.
-Bons argumentos, bons argumentos.
Disse Louis enquanto entrecruzava os dedos das mãos e sorria satisfeito.
-Então você trouxe o contrato? Indagou Fernando.
-Evidente. De um dos bolsos internos do seu palito Louis retirou um contrato enrolado em forma cilíndrica e envolto com uma fita vermelha – Aqui está, leia com calma. Entregando o cilindro a Fernando. Fernando desenrolou o papel e começou a lê-lo minuciosamente, clausula por clausula, sem deixar nem se quer um vírgula para trás, pôs a mão na testa, pensou por alguns instantes, coçou a nuca, olhou ao redor, então voltou o olhar para Louis e disse – Pois bem. Eu concordo com tudo, negócio fechado. Agora vamos falar sobre o pagamento.
-108 milhões, dividido em 10 contas diferentes,assim que você assinar o contrato o meu pessoal transferirá o dinheiro imediatamente. Precisa de uma caneta?
-Obrigado, então eu só assino aqui, onde está o xis certo?
-Exatamente. Nome completo, por favor.

Fernando dá uma ultima olhada no contrato e começa a assiná-lo. Louis observa atentamente cada curva que a assinatura de Fernando ostenta.
-Pronto, está feito! Fernando devolve o contrato para Louis. Louis segurou o papel com firmeza e seu rosto exprimia um certo prazer, algo absolutamente ininteligível para Fernando, então Louis disse – Está feito, o dinheiro já está em suas contas.
-Deixe-me fazer apenas mais uma pergunta. Estou curioso para saber, por quê “isso” vale tanto assim para você?
Fernando inclina-se levemente para frente enquanto faz esse pergunta, em seu rosto estampava-se uma expressão de intensa curiosidade.
Louis sorriu e disse – Digamos que eu esteja no meio de uma guerra, e “isso” como você mesmo se refere poderia vir a ser uma arma importantíssima nas mãos do meu inimigo e eu pago qualquer preço para estar a frente do meu inimigo! Então se levanta, vira-se e começa a caminhar, mas antes mesmo de chegar a porta, para e dirigi-se a Fernando dizendo – Ah! Não se esqueça, jamais conte a alguém sobre esse encontro, jamais fale sobre o contrato nem a venda, mude de nome, saia do país, jamais revela a alguém onde conseguiu tanto dinheiro... e Fernando!... Lembre-se, você terá exatos vinte e três anos de vida, a contar de agora e quando o seu dia chegar não tente fugir, eu mesmo virei te buscar.Te vejo no inferno!

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