quarta-feira, 17 de junho de 2009

Apenas nada


Um dia ensolarado, numa pacata cidade, numa rua qualquer, num ponto de ônibus, um homen qualquer; vestido de terno e gravata, cabelos penteados, barba feita, olhar distante, com uma caixa nas mãos, a segura com um cuidado demasiado e bem percepitível, uma caixa de sapatos, uma caixa com amarras feitas de barbante, uma caixa com varios furos. Não muito tempo se passa até que outro transeunte aprochega-se e senta, um homen de roupas simples, calça djeans, tênis, camiseta, cabelos de quem acabou de acordar, barba mal feita e olhar irrequieto.
Este segundo homem parece observar tudo ao seu redor, ele tem um olhar muito curioso, seus pés parecem ter vida própria; por ficarem saltitando o tempo todo, ele tem o incômodo hábito de ficar limpando as unhas umas nas outras, pura neurose, seu olhar leva seus pensamentos ao primeiro homem, que lá está pensativo; como se estivesse catatônico. Este segundo observa fixamente a caixa cheia de furos que o primeiro segura, observa com tanto ímpeto que o primeiro homem finalmente sai de seu trase e vira-se ao segundo; com um olhar sério e interrogativo, o segundo disfarça. Assim que o primeiro se distrai novamente, ele volta a observar a tal caixa, o primeiro ao sentir-se observado desliga-se de seu devaneio e volta a cabeça ao segundo, o segundo tenta de forma descarada esconder sua curiosidade. O primeiro homem observa o segundo de forma rígida por alguns instantes até que perde-se novamente no vago. O segundo pouco intimidado puxa assunto:
- É... calor né?. E espera a resposta.
- Bastante. Responde o segundo com um tom de voz seco.
- É... o senhor sabe que horas são?
- Não.
Seco
- É... eu sei, são quinze horas, vinte e três minutos e quarenta e... dois segundos. Sorri.
O segundo homem o olha com reprovação. O primeiro aquieta-se por um instante, então deslisa pelo banco de forma que se aproxima do primeiro.
- O senhor mora por aqui?
O primeiro olha impaciente e responde – Não!
- Hum... Eu moro.
O primeiro fecha os olhos e puxo ar impregando certa força. O segundo então tenta novamente iniciar um diálogo.
- Vem cá, o senhor sabe se já passou o 23?
- Não.
- Ai ai, é uma demora terrível, o senhor num acha?
- Uhum.
Acena com a cabeça afirmativamente.
O sengundo homem aproveita a aproximação e tenta lançar seu olhar por entre os buracos da caixa de forma que possa ver o seu conteúdo. Fica agitado por não conseguir e chega a cogitar a idéia de enfiar o dedo indicador em um dos buracos da caixa, mas logo desiste por imaginar que dentro da caixa possa haver algum animal peçonhento.
- Senhor! Sem querer incomodá-lo, sabe eu num sou o tipo conversador mas... confesso que estou muito curioso para saber qual é o conteúdo dessa caixa que o senhor segura.
O primeiro homem solta um sorriso de canto.
- Você realmente quer saber o que carrego nessa caixa?
- Sim!
- Mas primeiro me diga: O que lhe parece ser?
- Bem para mim é algum animal.
- E se eu lhe disser que não carrego nada nessa caixa? E se eu lhe disser que essa caixa está absolutamente vazia?
- Não creio nisso. O senhor não tem cara de louco.
- Bem... vou fazer-lhe uma pergunta, se você acertar a resposta; lhe digo o que carrego nessa caixa. Que tal?
- Fechado.
- Como posso encher uma caixa com algo e mesmo assim deixá-la mais leve?

O segundo homem balança o corpo por alguns instante demonstrando sua inquietação com tal pergunta e finalmente exclama.
- Essa é sacagem, não é possível encher uma caixa com algo e mesmo assim deixá-la mais leve. Se o senhor tem a resposta para essa pergunta então diga.
- É muito simples. Enchedo-a com buracos. Vê?

O segundo homem cruza os braços de forma infantil e fecha a cara, pois agora não saberá mais o que há dentro da caixa. O primeiro homem ostenta um sorriso leve, como se tivesse vencido o tal curioso, então diz – É um furão! Você sabe o que é um furão?
- Um furão? O senhor diz um daqueles ratos enormes?
Demonstrando uma certa repulsa.
O primeiro homem solta um rápido sorriso – Sim!
- Senhor sem querer me intrometer... mas, por que um homem tão bem arrumado como o senhor carrega um animal tão despresível como esse? Não seria meis conveniente ter um cachorro como animal de estimação?
- Sim, seria. Mas acontece que esse furão não é um animal de estimação...
- Então?
- Deixe que eu lhe conte uma pequena história. Eu tenho um irmão que desde muito novo se envolveu com drogas pesadas, sabe, ácidos. Hoje em dia, após passar alguns meses em tratamento, ele já se encontra sóbrio, mas uso excessivo daquelas substâncias afetaram sua mente, a maior parte do tempo ele é uma pessoa normal, meio lerdo, mas normal, porém durante a noite ele acorda desesperado tendo alucinações horríveis, ele diz que vê rãs caminhando por todo o seu corpo, entrando e saindo de todos os seus orifícios. Não sei se o você sabe mas o alimento favorito dos furões são as rãs. É por isso que trago esse furão comigo, estou levando-o para dar ao meu irmão. Entedeu?
- Entendi. A maior parte pelo menos. Sei que os furões comem rãs, mas me diga as rãs que atormentam seu irmão não são rãs imaginárias?
- Sim, assim como esse furão, que também é imaginário.

Por um instante o segundo homem arregala os olhos, desvia o olhar aos poucos do primeiro homem, sorrateiramente delisa pelo banco afastando-se do outro homem, cruza os dedos das mãos, fica impassivo, sem ação, não sabe o que dizer diante de um louco como esse, então torna a cabeça em direção ao primeiro homem.
- Será que onde o senhor comprou esse furão vendem pica-paus? Eu estou tendo um sério problema com cupins.

segunda-feira, 15 de junho de 2009

Psicodelia

Cenário: Um enorme gramado, algumas palmeiras ao fundo, uma cadeira.
Cena 1: Um homem se aproxima e senta-se na cadeira, ele cruza as pernas de forma afeminada, entre cruza os dedos das mãos, eleva a cabeça como que querendo obsservar com maior amplitude. Ele tem um olhar sereno; que transmite uma tristeza profunda e distante, cabelos despenteados, sua testa mostra sinais de uma possível futura calvíce, usa óculos grandes e pretos; daqueles com armação grossa que deixam quem os usa com ar de intelectual, rosto barbudo, sua barba é bastante falha; principalmente nas costeletas, suas orelhas tem os lóbulos levemente quadrados, detalhe intrigante. Sua indumentária é bastante modesta, calça, chinelos e camisa pólo.
(Momento de silêncio, o tal homem olha ao redor)
- Bom dia! Hum! Creio que vocês não me conheçam. Alguém aqui sabe meu nome? Não? Muito bem... Meu nome é Gentu, eu sei, nome estranho, mas podem me chamar de doutor G, ou sei lá Gentu mesmo. Bem... muito bem... Então, estou aqui hoje para dirigir a terapia em grupo. Por tanto, serei vosso terapeuta. Logo de início quero que vocês saibam que estão livres para não falar se não quiserem, eu aconselho que participem, mas... Bem para começar vamos nos apresentar, então, começamos... da esquerda para direta... Hum? Algum problema? Eu sei, você deve estar meio tímido, isso eh bastante comum. Que tal você? Hum? Não? Ok. Começamos por mim então, muito prazer meu nome eh Gentu Pantaleão, eu tenho vinte e oito anos, sou terapeuta, já estou na Clínica Santa Bárbara há três anos ,sou solteiro e como vocês também já tive sérios problemas com solidão, estive em depressão profunda, perdi doze quilos nesse período,inclusive foi quando descobri que ficava bem de barba, he he, mas foi fazendo terapia que eu consegui finalmente lidar com essa situação. Eu sei vocês devem estar se perguntando “Como assim?”. Realmente é meio estranho um terapeuta revelar a seus pacientes que ele passou por um problema similar ao deles, mas acho que é por aí que eu conseguirei mostrar a vocês que assim como eu consegui me livrar disso vocês também podem. Sim? Você tem uma pergunta? Não? Ok. A solidão, a solidão é um estado de espírito que independe da presença física de companhia. Acho que isso está bem claro para vocês. Certo? É como... como... comer! As vezes você come, come e mesmo assim ainda fica com fome, existem inumeras razões para isso, geralmente é ansiedade ou são vermes mesmo. Mas a questão é “Como podemos lidar com algo cujas as causas são tão amplas?”. Bem não é tão inexplicável assim, há varias razões para alguém se sentir tão solitário; emprego, família, vida sentimental, dinheiro, cada caso é um caso. É igual colocar piercing na genitália, só Deus sabe o que leva uma pessoa a fazer isso. Bem, no meu caso entrei em depressão por ter me frustrado diversas vezes em relacionamentos, era muito estranho, sempre começavam bem e depois desandavam, o mais estranho é que eu sempre atraia pessoas que não estavam de fato prontas para um relacionamento, é como se eu fosse um reserva. Sabem? Eu era um cara legal, tirava as garotas do poço, daí depois que elas já podiam andar com as próprias pernas... saiam andando. Simples assim. Eu me sentia o Fábio Júnior, só que é lógico que eu não pegava gatas como ele, mas quero dizer que tive diversos relacionamentos, toda semana havia um nome novo na minha agenda. Daí então eu decidi que tinha que esperar a pessoa certa. Mas como seber quem é a passoa certa? Bem, eu criei um critério de seleção, e fui estreitando as possibilidades, até que pimbaratuxa! Achei a guría, era o que eu havia pensado, mas de novo quebrei a cara, mas eu fiquei tranquilo, depois pimba! De novo e de novo e de novo. Sabe quando você fala pra uma criança “Não enfie o dedo na tomada!”? Ou “Tira a mão de perto da chama do fogão!”? Então foi exatamente assim. Algumas pessoas me aconselharam, mas... He he. Isso acontecia porque eu me perdia em meio a insegurança, vocês precisam aprender a compreender suas capacidades e limitações, só assim vocês poderão aprender a superar seus problemas, no caso a solidão. O fim dessa solidão, só depende de vocês. Sabe quando vocês passa anos procurando aquela figurinha premiada? Daí você compra todos os pacotinhos que você pode, você deixa de lanchar na escola e coisa e tal. Não é assim que funciona no mundo real, você tem que aprender a sair rasgando os pacotinhos que limitam sua mente. Hoje eu sou um homem feliz, realmente feliz, mas porque eu parei de ficar me iludindo, eu comecei a lutar, eu coloquei toda essa coisa de karma contra a parede e forçei até conseguir o que eu queria. E é isso que vocês tem que fazer, como eu sempre digo “Vocês são capazes de fazer tudo que for possível ser feito!”. Então o que vocês farão? Hum? Será que vocês não estão entendendo? Só depende de vocês! Vocês não precisam tanto de aprovação, nem de dinheiro, nem de carinho, vocês tem todo o necessário, é o mundo que precisa de vocês! Saibam que se hoje eu tenho um ótimo emprego, sim eu acho o meu emprego ótimo, se eu tenho uma vida financeira boa, se eu tenho todos de quem preciso, se hoje eu tenho uma mulher incrível e vocês não fazem idéia de quanto ela é incrível, é porque eu lutei contra esse sentimento de inferioridade, de derrota, de desânimo, é porque eu não desisti e vocês não podem desistir também. Vamos lá, levantem-se de suas cadeiras, vamos, vamos levantem-se, é sério, agora repitam comigo, repitam....
Cena 2: Uma mulher negra, gorda, vestida de branco, aproxima-se de Gentu lentamente enquanto o mesmo fala eufórico com seus pacientes e toca-lhe o ombro.
- Rafael!
- Cleide já te falei que meu nome não é mais Rafael! Gentu, doutor Gentu para você!
- Tá bom, como quiser, doutor...
-Além do que já te falei para não me interromper enquanto eu estiver com meus pacientes. Pessoal desculpe eu tenho que resolver uma questão com a enfermeira Cleide e já volto. O que é Cleide?
- Você sabe o que é! Pare de bobeira, é hora do seu remédio!
- Mas que droga. De novo? Mas eu num quero tomar...
- Vamos lá abrindo a boquinha, anda!
- Tá bom. Glupt! Prontinho já tomei, olha, tomei tudinho.
- Tá agora vamos voltar pra dentro...
- Mas cleide eu ainda não terminei...
- Pare com essa bobeira de terapia. Ande, já pra dentro!
- Tá, você é uma chata sabia?
- Sei você me fala isso todo dia.
- Cleide, mais tarde eu preciso ir ao banco pra...
- Humrum, banco, sei, faz o seguinte deixa pra ao banco outro dia. Tá?
- É... Cleide algum amigo meu ligou?
- Rafael você sabe que não tem amigos...
- E a minha esposa? Afinal ontem foi nosso aniversário...
- Rafael, você sabe que nunca foi casado!
- É.. eu sei.
- Então... por quê inventa essas loucuras?
- Não são loucuras. São estórias de vidas passadas que nunca aconteceram. Não por falta de tentativa, mas por falta de sorte, talvez.
Cena 3: Rafael e Cleide vão caminhando rumo a clínica, Rafael cabisbaixo, Cleide com uma mão em suas costas, Rafael boceja e demonstra estar ficando sonolento, talvez por causa dos remédios. No gramado, a cadeira de Rafael, de frente para ela algumas outras cadeiras, ocupadas pelos pacientes de Rafael, um simpático grupo de oito melâncias.

terça-feira, 9 de junho de 2009

Deserto freezer


Ele era o tipo solitário, mas não por isso anônimo, aliás, ele era muito conhecido e procurado, considerado talentoso, era o melhor no que fazia. Mas era em meio as multidões onde ele mais se sentia só, ele era o tipo caladão, de expressão quase que sempre sisuda, muitos pensavam que ele era o tipo cruel ou frio, sua voz esbanjava puro sarcasmo, suas atitudes eram as mais sagazes possíveis. Seu nome era Sr° L; pelo menos assim que era conhecido, reza a lenda que nem mesmo ele se lembrava como era seu verdadeiro nome.
Manhã de segunda-feira, Sr° L ainda dormia. Seu quarto refletia a desilusão e o cansaço de sua alma, seu violão jazia em um canto, há muito não soava um acorde, em uma mesa um monte de papéis que um dia devem ter representado algo, em um caixote uma porção de livros a maioria ainda nem foram lidos. Batidas desesperadas contra a porta perturbam o sono do Sr° L. Ainda com os cabelos ouriçados e apenas de cuecas ela abre a porta da velha choupana onde vivia, na varanda estava o banqueiro, Sr° Carrer, se debulhando em lágrimas, junto a ele se encontravam alguns capangas muito mal encarados, o banqueiro se ajoelhou e aguarrou as barras da cueca do Sr° L e começou a baubuçiar : “Por favor, você é o único que pode me ajudar, não diga não, eu pago bem, diga qual o seu preço....”. Então o Sr°L o interrompeu abruptamente : “Com que diabos! Cê tá louco homem? Do que cê tá falando?”. Após soluçar e tremular um pouco o banqueiro finalmente consseguiu pronunciar palavras precisas : “Minha filha, minha filha estava vindo da capital, não sei como descobriram mas o bando do maldito Mc Fly a pegou, enviaram um mensageiro com o seguinte recado “Envie três carruagens com todo o dinheiro que há no seu banco, enviarei um pedaço de sua filha a cada dia de demora. Ass: Mc Fly”. Tais palavras foram suficientes para despertar o entendimento do Sr° L, que então pensou “Um serviço sujo pede um assassino sujo para executá-lo ”. Sem mais delongas ele respondeu : “Eu aceito o serviço”. Se virou, vestiu as calças, apanhou uma camisa, um casaco, calçou as botas, pôs as rosetas, pôs o cinturão, carregou e enbainhou as pistolas, que totalizavam oito, duas vinham em coldres nas costelas, quatro iam na cintura, e uma amarrada a cada calcanhar, pôs o chapéu cuspiu no chão e disse : “Pra onde eles a levaram?”.
Duas horas mais tarde ele já se encontrava em meio ao deserto, ia montado em seu mustangue, um cavalo que ganhara de um velho apáche. Sr° L nunca acreditou muito em magia e coisas do tipo mas naquele momento por alguma razão icógnita estava se lembrando exatamente das palavras proferidas pelo velho feitiçeiro apáche : “Lobo do deserto, sua vida sempre foi e sempre será solitária, você é um homem sem nome, sem passado, sem família, sem raça, a única certeza que tenho a seu respeito é que é um homem de muita coragem e que nas suas veias corre o sangue dos meus antepassados. Homem pardo você morrerá da pior forma possível, mas antes que isso aconteça você finalmente encontrará o que procura no mundo!”. Perdido em seus pensamentos Sr° L quase se esqueceu para onde estava indo, já era noite, parou, botou o cavalo para beber um pouco d’agua e descançar, acendeu uma fogueira, assou um rato com o entusiasmo de quem assa um pavão, fumou como se fosse a primeira vez em muitos anos, bebeu como quem se deleita em mel, tocou sua gaita sentido-se Mozart e deitou-se sorridente. Logo começou a pensar e se questionar por quê tanta alegria? Nem mesmo ele sabia por que tanta alegria. Então deu de ombros e dormiu.
Enquanto o sol rastejava para dentro da pequena vila South Haw, Sr° L já cavalgava por entre as vielas, de cabeça baixa, como quem passa foragido ou tímido, deixou seu cavalo em frente ao saloom que apresentava o maior fluxo de pessoas vulgares. Ao entrar no local iniciou-se um breve silêncio, como é de praxe nos saloons quando um forasteiro aparece, mas logo o piano voltou a tocar e as protitutas voltaram a sorrir. Sr° L caminhou até o balcão, logo o barmam dirigiu-se até ele : “Posso ajudá-lo senhor?”. Com uma voz seca Sr° L respondeu-o com outra pergunta: “Você sabe onde estão Mc Fly e seu bando?”. O barmam estatelou os olhos e disse: “Por favor, eu não quero me meter em problemas.”. Com um sorriso malévolo Sr° L disse : “Então me tráz um copo de leite morno!”. O barmam assustou-se mais ainda e disse : “Que...que...como disse senhor?!”. Então o Sr°L gargalhou e disse : “Foi uma piada. Me Traz algum vinho barato e um cinzeiro”. Por um instante Sr° L olhou ao redor e viu numa dada mesa alguns tipos bem estranhos torrando um bocado de grana com póquer , bebidas e prostitutas. Acendeu um cigarro pegou sua garrafa de vinho e foi ao banheiro, o banheiro apresentava-se vazio e a única coisa que o espelho do banheiro refletia era a cara embriagada do Sr° L. Voltando do banheiro dirijiu-se com uma certa truculência até a mesa onde estavam os esbanjadores, com a garrafa de vinho, já vazia, acertou um dos homens, estilhaçando cacos por todas as partes e arrancando gritos das mulhres, com o caco que restou junto a boca da garrafa ele cavou uma vala no pescoço dum outro cavalheiro que estava a mesa, logo em seguida puxou uma arma que carregava no cinturão, do lado esquerdo, e disparou contra o rosto de um terceiro homem, ao mesmo tempo sacou a arma que se encontrava no coldre direito do cinturão e apontou para o único homem vivo que restara.
Ainda eram 7 da manhã e Mc Fly tomave seu café da manhã só de pijama, uma bela mesa com café, leite, ovos mexidos com bacon, pão e manteiga. Mc Fly era o tipo mórbido, sua expressão se assemelháva a de um bulldog, já de meia idade, com seus 50 anos era o bandido mais temido do velho oeste. Depois de um longo intervalo silencioso e tranquilo uma série de disparos dissipa a paz que parecia imaculável, Mc Fly dá um pulo da cadeira onde estava sentado, pega seu coldre de armas e lança seu olhar para a janela que dava para rua, era possível ouvir o reboliço no prédio do outro lado da rua, era possível ver homens voando pelas janelas, então como numa cena cinematográfica um homem de pele parda pula atravéz da janela mais alta do tal prédio caindo no telhado vizinho. As exêntricidades não se limitam por ai, o homem que saltava pela janela carregava em suas costa uma moça, para o espanto de Mc Fly a tal moça era exatamente a filha do tal banqueiro, sim, era Lady Ane Carrer.
Sr° L, corria pelos telhados da cidade, enquanto carregava Lady Ane nas costas e atirava contra todo o tipo de gente que aparecia. Era inacreditável como apareciam armas nas sacadas, as balas estavam por todos os lados, nesse momento era quase impossível raciocinar, mas o Sr° L ainda tinha um plano, após saltar varios telhados e matar varios homens, ele voltou ao telhado do saloom, onde encontrou aqueles capangas jogadores, entrou pela janela superior, desceu a escadaria e saltou para os fundos do estabelecimento, assobiou e seu mustangue logo apareceu. O Sr° L jogou a moça com toda a delicadeza possível sobre as costas do animal, montou e saiu galopando exigindo do mustangue toda a potência que a natureza lhe proporcionara.
Por alguma razão não saia da mente do Sr° L o momento em que entrara no quarto onde estava cativa Lady Ane Carrer; ela estava sentada num canto, apavorada com a barulheira das balas e de toda aquela confusão, ele reparou que nas mãos da moça havia um livro que lhe era familiar, um dos livros de William Blake, sobre sua cama haviam alguns desenhos inusitados, alguns esboçavam flores outros apenas mãos, a pobre dama parecia em estado de choque, ele olhou fixamente em seus olhos e disse : “Eu vim te buscar”. Lançou a garota nas costas e saltou a janela.
Já no deserto, Sr° L cavalgava em desespero, Mc Fly e seu bando vinham o seguindo, disparavam em sua direção de forma totalmente casual e aleatória sem se preocuparem em quem acertariam. A moça parecia apavorada, mas nem se quer esboçava um grito, ela apenas olhava fixamente nos olhos do Sr° L, ela o olhava de uma forma que dispensava palavras, como diz uma certa poetisa “as vezes o silêncio se torna também um idioma”, o tempo era curto e não havia muito que podia ser feito, então uma idéia veio a mente do Sr° L, ele se lembrou de uma forma de se safar de toda aquela embrulhada.
O trem carvoeiro era a única locomotiva que passava naquela região, o Sr° L sabia que se se apressasse poderia pega-lo e dessa forma ir até um local seguro. Seu mustangue já estava cansado e uma de suas patas sangrava em decorrer de um ferimento á bala, mas bem longe era possível ouvir o apito do trem que lhes traziam forças para continuar. Sr° L sabia que não estava longe e que chegaria a tempo, o bando de Mc Fly estava na sua cola, atráz cerca de uns cinquenta metros. Agora o trem já se mostrava próximo, Sr° L em um golpe de sorte consseguiu atravessar os trilhos saltanda arriscadamente pela frente da locomotiva de forma que ficou protegido atraz da enorme estrutura metálica dos vagões, nesse momento olhou para a moça ,não foi preciso dizer nada, a moça pulou para dentro de um dos vagões, logo em seguida o Sr° L também, após estarem os dois dentro do trem o Sr° L estendeu a mão chamando seu mustangue, mas o pobre animal mal conseguia galopar quanto menos pular para dentro da locomotiva. Sr° L olhou para Lady Ane e novamente não foram necessárias as palavras, seus olhos diziam “Eu não posso continuar sem meu mustangue”, então Sr° L pulou na garupa do cavalo, Lady Ane lançou-lhe um olhar como que dizendo-lhe “Ainda nos veremos?”, Sr° L respondeu apenas com os olhos “Espero que sim”.
O mustangue cansado diminuiu a marcha e logo parou, Sr° L observava o trem com uma estranha sensação que finalmente havia encontrado o que tanto procurava na vida. Um assobio cortou o ar; era o assobio do destino, Sr° L voltou-se a cabeça em direção ao som. Á uns 10 metros de distancia estava Mc Fly com sua enorme pistola, apontada direto para o Sr° L, o puxar do gatilho fez o CLECK mais longo já escutado pelo Sr° L, a fumaça da pólvora espalhando-se pelo ar lembrou-lhe dos fogos de ano novo, a bala vinha em sua direção, lenta, quase parando, nesse momento o Sr° L pôde lembrar-se finalmente seu nome, pôde lembrar-se que teve uma família, uma esposa, filhos, uma profissão. O projétil de chunbo penetrou a uma temperatura infernal na cabeça do Sr° L; espalhando seus miolos pelo ar e estirando seu corpo nos trilhos do trem, libertando sua alma para finalmente descançar em paz.
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GAME OVER
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- Droga!!! Porra de video game! Por quê eu nunca consigo passar dessa fase?!!!
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JOGAR DE NOVO?
SAIR DO JOGO!
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JOGAR DE NOVO....

sexta-feira, 5 de junho de 2009

A volta dos que não foram.

É uma droga de uma noite chuvosa, o corinthians jogando e eu aqui andando no mato, eu estou andando na chuva a uma meia hora e não chego a droga do lugar. Eu odeio florestas, a minha única forma de orientação é um mapa; que foi desenhado por um louco e provávelmente não me levará a lugar algum. Fico pensando por que diabos eu entrei nesse negócio de polícia? Nos filmes sempre é mais legal. Eu ficava vendo “Corra que a polícia vem aí”, eu me imaginava no lugar do Lelie Nilsen, no 33 1/3. Cerca de três anos atrás houve um crime, ou não, o que sei é que a mulher de um judeu sumiu; eu tô andando no mato atrás do suposto túmulo da suposta assassinada. Quem a assassinou? Vocês não vão acreditar, no começo o pobre judeu chorava feito uma criança, uivava pra lua, tinha pesadelos e coisa e tal, viajou boa parte do país atrás de pistas, provas, corpos, fantasmas, no começo a polícia até preocupou com a “vítima”, até ouvir o depoimento dos vizinhos e averiguar que provavelmente a fulana tenha fugido com um ex-seminarista anglicano; que comparecia muito a casa dela (se é que vocês me entendem) para “aconselhar”, esses padres são um bando de safados, bem pelo menos esse pegava mulheres, uns dias atrás ouvi falar num caso dum padre que mesmo depois de ter ensinado as criançinhas o sentido da vida (pra quem não sabe o sentido da vida é horizontal) ainda conseguiu ser perdoado e voltar para a mesma igreja, imagino ele abrindo a missa de domingo “Bom dia querida igreja! Queria agradecer pela presença de todos aqui hoje e aproveitar para pedir perdão as mães pelo incidente da semana passada com as criançinhas do coral...”, que bagunça do caramba, eu estou com os sapatos cheios de lama e pelo visto não vou chegar a lugar nenhum. Voltando a história, agora depois de três anos o tal judeu reapareceu com uma estória de que a mulher o traía; daí num certo sábado, como ele não tava fazendo nada mesmo, matou a vadia, trouxe ela até aqui nesse fim de mundo, fez um buraco e a enterrou; sempre fiquei imaginando como diabos esses judeus aguentam ficar um dia inteiro sem fazer nada? Como dizia minha sábia vizinha, Dona Matilde; que Deus a tenha, “Mente vazia é oficina do capeta”. Pelo mapa eu devo estar a uns oito passos do xis. Mas que droga é essa? Parece que realmente tem uma cova aqui. Droga! Vou ter que cavar, é bom que realmente haja um cadáver aqui, porque se eu encontrar uma bosta de uma boneca inflavel vou ficar muito puto! O psiquiatra diz que o rabino tá com algum complexo de culpa que gerou um lance de esquizo-num-sei-o-quê, dizem que o cara surtou a tal ponto de ter personalidades multiplas a até a suas pseudo-personalidades terem personalidades multiplas, pelo menos ele não se sente mais sozinho, aliás isso tudo deve mesmo ser culpa dele, afinal o cara num passa de um bundão. Que droga de polícial eu sou, é quarta a noite, o corinthians jogando e eu aqui fazendo o serviço de um coveiro, eu tenho pensado em entrar no ramo dos alimentos, talvez assim eu encontre algum tipo de emoção, a porra da minha arma até hoje num sabe qual é gosto dum disparo, a não ser no ano novo quando a gente fica atirando pro alto pra se mostrar pra gurias. Eu cavo, cavo, cavo e acho algo,um esqueleto, um cadáver, é, o filho-da-puta do judeu realmente matou e enterrou alguém aqui, mas não é a esposa-vadia-fugitiva, é o pobre pastor-alemão da família.