segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Sozinho

"Suas mãos tristonhas recolhem as cartas da mesa, ele as embaralha e torna a distribuí-las."

Hipérbole emocionista:.
-Ultimamente estive a me questionar: se hoje sou o resto do homem que já fui um dia, ou se esse homem que outrora fui não passava de uma vã ilusão e todas aquelas virtudes, esperança e positivismo eram apenas inocência. Todo o meu ser dissipou-se ao defrontar a verdade, hoje compreendo que a verdade fere enquanto a mentira anestesia a alma flegelada e distorce a dor em virtudes, esperança e positivismo.

"Seu olhar vai ao longe, ele solta as cartas,dá um trago no cigarro e um trago no uísque."

A invenção da culpa:.
-Há uma certa convenção mística a respeito do perdão. Será que o perdão nos exime da culpa? Afinal de contas não muda nada. Será que eu realmente já perdoei? Ou será que me sinto aliviado por alguém estar carregando o peso dessa culpa? Se eu tivesse a chance de mudar o passado e fazer tudo melhor eu faria, mas e se eu tivesse a chance de um recomeço? Será que ao tentar mudar o passado eu obteria um resultado diferente do atual? E se eu tivesse a chance de um recomeço, será que optaria por experimenta-lo ou pela dúvida de não saber como poderia ter sido? Duvido das minhas certezas; sou humano. Será que minha razão poderá superar as minhas emoções? Será que eu racionalizaria as minhas emoções? O mais provável é que eu desenvolvesse sofismas; não menos lógicos do que a realidade é. Tudo me leva a crer que sou pior do que eles, mas com certeza existe alguém pior do que eu. Quando se monta um quebra-cabeça e se obtém um resultado diferente do imaginado é realmente frustrante.

"Ele sacode o dedo indicador, como quem indica algo, levanta, vai ao quarto, some por alguns intantes, volta com um dicionário."

Do vago a algo:.
-Vago: 1. não ocupado, vacante. 2. disponível. 3. que deixa muito a supor. 4. incerto, não fixo. 5. que não tem suficiente precisão. 6. errante, errático, vagabundo. 7. confuso, mal distinto. Ex:"seu olhar era sempre tão vago"
Algo: 1. alguma coisa. Ex: "Seu olhar sempre me escondia algo"
Como posso eu levantar algum debate filosófico mediante a uma situação tão simplória? Me acometem duas possibilidades: 1. Talvez eu seja um homem simplório. 2. todo mundo está pensando de fora para dentro. Quiçá? Ou talvez... talvez eu esteja apenas masturbando meu ego, para simular algum prazer na tentativa de amenizar a sensação de ser um tolo. Em que adianta pensar como um sábio e falar tanto quanto um tolo? Os tolos despejam tudo que sabem sem diligência; vulgarizando a sabedoria. Já os sábios sabem exatamente a hora de se calarem; tornando assim a sabedoria um prazer insigne.
Só os tolos se admiram com a sua própria sabedoria.
Nós nunca pararemos de aprender, mesmo quando estivermos nos esquecendo do que é decente e moral, ou quando estivermos perdendo a razão em decorrer da idade ou de alguma demência, teremos que aprender a nos lembrar do que racional.
Somos universos paralelos em constante expansão.
Somos divagações em ascensão.
Um mundo abastado de pessoas vagas em granjeio de algo.

"É assim que a filosofia se torna barata. Um cara bêbado, abandonado, choramingando besteiras, jogando baralho, sozinho."

domingo, 22 de novembro de 2009

Sábado das moscas

Metade do copo com contini
metade com vinho

"Por isso uma força me leva a cantar"
(Tá bom que isso é um puta plágio do Caetano)
"Mas não há nada de baixo desse sol que já não tenha sido feito por outro"
(Tá bom que isso também seja um plágio, de Salomão)

Mas por que pagar tanto para ouvir o Veloso?
Eu ouço daqui mesmo
da cerca
Bem mais próximo que qualquer um
Além do que
Por que pagar tanto para ouvir o Veloso?
Se eu ouço a Miranda de graça

"Por isso uma força me leva a cantar"
Sinto muito Caê, já me apossei desse verso
Mas seja lá o que for
é o amor
e o álcool
e o free
fresh
Eles formam uma conbinação engraçada

(Alberto Salgado)

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sobre o autor

Álvaro Tavares Maia, nascido em 26 de março de 1990, na cidade de Teresina, Piauí, desde muito pequeno revelou inclinação para as artes. Entre o seu nascimento até completar 7 anos de idade mudou-se tanto quanto um nômade, morou em cerca de 6 capitais diferentes, devido a constante mudança de empregos seu pai. Aos sete anos de idade, já em Araguaína no Tocantins, começou a descobrir seu, modesto, talento para o desenho à mão livre, iniciando com trabalhos simples, tais como desenhos animados que retratava da televisão. Passaram-se alguns anos nisso, sua família se mudou novamente, dessa vez para Palmas, no Tocantins. Álvaro só viria a ter conhecimento de outros dotes artísticos na adolescência, no período de 7 aos 15 anos passou apenas como um nerd que tinha aptidão para o desenho, interessando-se também por histórias em quadrinhos, mangás e até ousando em alguns retratos de personalidades. Aos 15 Álvaro viria a descobrir uma nova forma de arte, o artesanato: macramê, filigrana, crochê e alguns outros tipos. Arte na qual não se especializou, nem era tão bom, mas fazia com gosto, e impressionava as pessoas pela vastidão, mesmo que ainda ínfima, de seus talentos. Junto com o artesanato descobriu o mundo, nessa fase da vida conservou os cabelos compridos, vivia cheio de peduricalhos e não tomava banho. Sonhava em deixar a barba crescer, fato que só foi possível aos 18. Passaram-se dois anos, onde neles Álvaro apenas levaria uma vida simplória, sem ostentação alguma. Só aos 17 descobriria uma leve inclinação para o teatro, começando a participar de uma oficina gratuita oferecida pela prefeitura de sua cidade. Aos adentrar no mundo das arte cênicas sua percepção das formas de expressão artística se alargou. Começando aos 17, além de atuar, a escrever alguns contos, manuscritos. Aos 18 terminou o ensino médio, largou o teatro e ficou um período estagnado. O grande sonho de Álvaro era cursar uma faculdade de cinema, coisa que parecia impossível aos seus olhos, por causa de sua condição finaceira. Aos 18 entrou em depressão, e começou a se tornar uma pessoa mais isolada e de gosto peculiar. Desde sempre fora uma pessoa excêntrica, mas nessa época suas manias começaram a se aflorar de tal modo que o obrigaram a procura ajuda de um psiquiatra. O tratamento psiquiátrico não foi necessário,Álvaro encontrou métodos alternativos, como afirma ele. Já aos 19 fez um blog, no qual postaria seus contos, desde os mais antigos; transcritos agora para uma versão digital, até contos com formas e estrutura variadas, que Álvaro aprendera a utilizar nesse ultimo ano. Seu blog se tornou um sucesso entre amigos e conhecidos, circulando na Internet e atingindo ainda algum público em outros estados do país. Ainda aos 19 Álvaro descobriu sua capacidade de produzir poemas, mesmo nada complexos e sem muito impacto. Aos ler Bukowski, diz ele, teve algumas luzes, para iniciar na poesia, sem deixar o conto de lado, e ainda sem abandonar a idéia de um dia escrever romances. Usava de heterônimos, pois assim se sentia mais à vontade para escrever o que bem entendesse. E é nesse ponto que começa a nossa história.

Era uma segunda feira, 9 de novembro de 2009, Álvaro chegara em casa, depois de uma leitura cênica, na qual participara, mas por algum motivo o sono não lhe vinha. Ele passou cerca de 1 hora e 48 minutos rolando de um canto para outro da cama. Levantou-se, bebeu um copo bem fundo de água e foi assistir tv, para seu grande arrependimento. Na tv iniciava-se o programa daquele senhor gordo e engraçado, Álvaro gostava de assisti-lo sempre que possível, mas nessa data se tornou memorável o episódio. O apresentador falava de alguns convidados que receberia, dentre eles um quarteto de poetas que iniciaram a carreira juntos, através de um blog, e que agora estariam lançando seu primeiro livro. Até ai nada fora do comum, até o gordo ditar os nomes dos quatro poetas “E também estarão comigo, quatro poetas ainda jovens, que iniciaram a carreira em um blog da Internet. Alberto Salgado, Flávio Linhares, Marcelo Prado e Duda Teixeira”. Os olhos de Álvaro se esbugalharam, o sangue parou de circular, ele sentiu um frio glacial na espinha, parecia que estava vendo o próprio Satã. Ele não entendia, não podia. Tentou ser racional, se controlar, piscou os olhos freneticamente. Não era possível, ele havia de ter ouvido errado. Sim, essa era a única explicação plausível para tal. Devia ter confundido os nomes, afinal estava cansado e não conseguia dormir, seu cérebro estava lhe pregando uma peça. Álvaro ainda aguardou dous blocos do programa para ver a tal entrevista. Pareceu que o choque que havia sofrido no começo do programa não fora nada diante do segundo choque, o choque da confirmação dos nomes. Não se tratava de uma confusão auditiva, eram realmente Alberto Salgado, Flávio Linhares, Marcelo Prado e Duda Teixeira que estavam no palco do gordo. Mas como? Como era possível que existissem quatro poetas, que começaram a carreira num blog, que escreviam em conjunto, cujos nomes fossem os mesmo nomes que ele usava como heterônimos? Isso mesmo o grande espanto de Álvaro era por tal circunstância. Como já havia sido dito ele usava de heterônimos para escrever seus poemas e agora estava diante de quatro poetas que carregavam os mesmos nomes de suas outras faces. Até ai, sim confessamos, é espantador, mas o que seguiria era pior ainda. O gordo pediu que um dos poetas recitasse um poema, então levantou-se Flávio Linhares e com sua voz cheia de romantismo começou a declamar um poema chamado “Woody e além?”. Álvaro não poderia crer naquilo, agora já era demais! Como podia além da coincidência de nome, haver alguém que escrevesse um poema exatamente igual ao que escrevera com aquele heterônimo? Agora o sangue de Álvaro esquentava dentro de suas veias. A raiva explodia dentro de seu coração. Alguém estava fazendo fama as custas de seu precioso trabalho! Sim, era isso. Essa era a única explicação. Descobriram-no e se aproveitaram de seu anonimato para usurparem-lhe a poesia. Ora bolas, mas isso não ficaria assim. De forma alguma. Ele haveria de fazer algo. De certo os processaria, processaria o gordo, a emissora de tv e quem mais conseguisse, ou estivesse no seu caminho. Nessa noite obviamente ele não dormiu nem um segundo sequer. Acordou cedo e foi trabalhar, sim trabalhava, apesar de seus notável talento para a escrita ainda não obtivera nenhum reconhecimento, por tanto trabalhava em um desses empregos secundários, era recepcionista de um hotel. Chegou no serviço com uma cara de zumbi. A noite havia sido péssima, mas o dia, esse dia, só tinha o que piorar. Ao chegar no serviço, sorrateiramente, acessou a Internet e foi direto a página de seu blog. Assustou-se quando o navegador acusou a inexistência do mesmo, claro que não passou de um erro na digitação do endereço, afinal estava muito nervoso, com mais calma digitou novamente o endereço desejado, agora conferindo letra por letra “www.cistocilicose.blogspot.com”. Logo a página foi carregada, ele sentiu um leve alívio no peito. Viu que estava tudo lá, nem um post a mais nem um post a menos, inclusive os dous últimos textos em que trabalhara na tarde anterior. Ufa! Ele clicou em “Login”, digitou seu e-mail, digitou a senha, porém... Nada, apenas a mensagem “senha incorreta”. Não era possível que tivesse errado a senha, era a mesma para todas a ocasiões. Mesmo assim ele tentou novamente, e de novo, e de novo e de novo, porém sempre a mesma mensagem “senha incorreta”. Ele não sabia se ficava nervoso, espantado, atordoado, doudo, ou o que. Aquilo não podia ser real. Havia de ser um sonho. Não, sonhos não são tão longos. Era previsível que eles fizessem algo do tipo,afinal roubaram seus textos, teriam também de roubar seu blog. Agora não lhe restara nada, ou quase nada, ele tinha alguns amigos que poderiam testemunhar a seu favor, amigos que leram seus textos e que foram personagens de alguns. Sim, nem tudo estava perdido. O necessário era encontrá-los. Primeiro ligou para sua fã mais inveterada: Cleciara, “número inexistente” acusava a mensagem eletrônica. Estranho, haveria ela mudado de número e não o avisou? Logo em seguida ligou para seu amigo de longa data, Lázaro, “numero inexistente", o que não era grande novidade afinal o Lázaro vivia perdendo as coisas pelo caminho. Ligou para o Euzamar, nada, ligou no seu trabalho, a funcionaria o desconhecia.“Será possível que deram fim nos meus amigos?”, pensou ele. Ligou então para o André, Jânio, Werlles, Waylla, Wallissia, Thaise e nada, sempre o mesmo resultado. Desesperado foi a casa da Nana Caê, e para sua surpresa, ninguém, ninguém parecia ter algum dia ter morado ali, nem casa havia no local, perguntou para os vizinhos a cerca da família que ali morava, disseram que nunca houve família alguma ali, nunca houve casa alguma ali. Dar sumiço em uma casa inteira, será que chegariam a tal ponto? Será que sua obra era tão valiosa para que a roubassem descaradamente e ainda acabassem com sua vida e a vida de todos ao seu redor? Ele não podia compreender. Pegou o celular e continuou a discar os números de sua agenda: Pablo, Rafael, Kennedy, Ariane,George, Guilherme e nada, não conseguia achar ninguém. Ligou até para o Anderson (Gaúcho) que não era um ávido leitor mas já havia lido algo no seu blog. Ninguém. Era como se todos eles jamais tivessem existido. Álvaro por fim teve a idéia de acessar o Orkut e o MSN, enviar algumas mensagens para alguns amigos, ver se encontrava alguém na rede que pudesse testemunhar em seu favor. Foi a uma Lan house. Mas nada. Nem sequer conseguira acessar seu e-mail, “senha ou e-mail inválidos” dizia a mensagem eletrônica. Não tinha mais cadastro no Orkut, Hotmail nem em outro servidor qualquer. No momento em que foi retirar-se do estabelecimento, sacou a carteira para pagar a conta e notou, com estranhes, que seus documentos não estavam depositadas nela, no instante nem pensou na dimensão daquilo, simplesmente pagou a conta e foi para casa, muito atordoado. Ao chegar em sua residência deu de cara com portas e janelas fechadas, sem falar no enorme cadeado que proibia a entrada de qualquer um. Pendurada no muro havia um grande placa “Vendo” com um número de imobiliária embaixo. Não ponderou em ligar para a imobiliária e perguntar o nome do dono. Descobrindo ligou de imediato para o mesmo, que não passava de um estranho, que disse haver construído a casa a pouco mais de um ano, mas ainda não conseguira vendê-la. Não, não era possível uma coisa dessas. Como assim a construiu a pouco mais de um ano? Álvaro esteve morando naquela casa nos últimos 9 anos. Pelo menos era isso que acreditava. Fato não bem tão real, como iremos mostrar. Álvaro sentou-se na calçada, pos a mão na testa. Suava frio. Tremia, feito uma vara de bambu ao vento de um tornado. Pegou o celular, apertou o 2, número de discagem rápida que usava para sua namorada. O visor do celular apenas acusava número desconhecido, o número de Luciana não estava mais gravado na agenda. Como não? Quem o apagara? Num segundo olhar Álvaro pôde perceber que nenhum dos outros números de amigos ou familiares constava na agenda, como se alguém os tivesse apagado. Mas quem? Ninguém além dele tocava naquele aparelho. Subiu na “Poderosa”, sua pequenina moto, e foi rumo a casa de sua mãe. Nem foi tanta surpresa não a encontrar no local, muito menos o surpreendeu o relato de uma vizinha que alegou nunca tê-la visto, ou mesmo ouvido falar dela. Inutilmente Álvaro ainda foi até foi até seu local de trabalho. Não o reconheceram, acharam se tratar de algum pedinte, ou algum lunático, ou pior, um drogado. O escorraçaram para fora do recinto. Álvaro não tinha mais a quem recorrer. Simplesmente não havia mais registros de sua existência. Nada. Agora ele era simplesmente nada. Ainda outra vez foi a uma Lan house, imaginou que talvez se escrevesse novos textos e os guardasse em segredo poderia provar que tinha escrito todos os outros, um especialista naturalmente iria reconhecer a estrutura e linguajar usados. Álvaro ainda ficou um pouco diante do computador, parado, os dedos simulavam movimentos de quem digita, mas nenhuma palavra era mostrada no monitor. Ele simplesmente não conseguia imaginar, criar nada. Alguns minutos diante do computador foram o bastante para Álvaro perceber que até mesmo a capacidade de escrever, tanto contos como poemas, lhe fora tirada. Agora sim, já não lhe restara nada. Nada mesmo. Nem identidade, nem família, nem amigos, nem documentos, nem emprego, nem casa, nem amparo, nem idéias, nem consolo e nem dinheiro. Álvaro sabia que na sua carteira não encontraria um puto sequer e que não poderia pagar a Internet que estava utilizando. Como ultima medida decidiu acessar seu antigo blog, que fora saqueado pelo quarteto de impostores, e enviar-lhes uma mensagem, alguma mensagem, não sabia exatamente o que, uma ameaça, uma súplica, não sabia o que, só sabia que devia fazê-lo. Era doloroso para ele ver todas aquelas palavras, que saíram da sua cabecinha, serem atribuídas a um bando de larápios. Ao abrir da página esquecera-se imediatamente da idéia de enviar a tal mensagem, de primeira bateu os olhos no título do ultimo texto postado “Sobre o autor”. Suas pernas enfraqueceram-se, se não estivesse sentado cairia de boca no chão. Seria possível isso, ele não lembrava-se de tê-lo escrito, era um conto, quase uma biografia, contava detalhadamente a história de Álvaro, a sua relação com as artes, como começara a escrever, atuar, desenhar, falava de uma forma fictícia, dando a entender que era apenas um personagem. Álvaro não podia acreditar, o conto narrava desde o seu nascimento até aquele dado momento tão desgostoso de sua existência. O conto narrava a noite anterior, quando viu no programa do gordo os quatro outros poetas, falsários. Narrava o sumiço dos amigos e família, exatamente da forma que acontecera. Ele não podia entender. Será que o haviam seguido, e relatados todos os seus passos? Por fim, o conto narrava o exato momento onde ele escrevia o conto, e enquanto escrevia ria de si mesmo, que era o personagem principal, que lia no seu próprio blog o conto que escrevera. Sua cabeça virou uma loucura. Agora não se sentia mais um ser vivo. Talvez nunca tenha existido. Talvez não tenha passado de um personagem virtual. Digital. Já não sabia mais se havia criado Alberto Salgado, Flávio Linhares, Marcelo Prado e Duda Teixeira, ou se eles o haviam criado. Ele já não sabia o que era real ou não. Onde se limitava a existência. O que era o nada. Se essa voz que ele ouvia na sua cabeça era sua consciência, ou a voz de um dos supostos narradores que ditava sua história, ou se mesmo era a voz de algum leitor que por um acaso, ou por indicação estava lendo o seu, ou não seu, blog. Ele já não sabia de mais nada. Só que agora também era um ser tão fictício quanto real. E que provavelmente nada disso estivesse acontecendo, mas que no fim das conta, esse conto, está se passando apenas na sua cabeça querido leitor, e deixará de existir assim que parar de lê-lo. Por tanto, esse não é o fim, pois ainda ficará na sua memória a minha história, ou pseudo-história, ou conto, como quiser chamar. De como eu escrevi um texto, onde eu mesmo era o personagem principal, onde esse tal personagem-eu lia um conto a respeito de si mesmo, que ele mesmo havia escrito. Confuso não?

domingo, 8 de novembro de 2009

Lar doce lar!

Aurélio e Júlia eram um casal simples, como outro qualquer. Jovens, inesperientes, marinheiros de primeira viagem. Ainda com os estudos por acabar. Família distante. Eram um casal pouco ousado e ambicioso. Não dispunham de grande saldo junto ao banco. Cada qual com seu simples emprego. Aurélio era o tipo sóbrio, roupas com pouco brilho, sorriso sem notoriedade, presença quase que desapercebida. Aquele tipo de lobo em pele de cordeiro, pois longe dos olhares de Júlia enrrabichava o olhos em outras pernas, sem falar da clássica fugida para cerveja com os amigos na quinta. Júlia, o tipo sorridente-educada-séria, sempre foi a gerente do lar, tinha conhecimento de cada centavo que entrava ou saía de suas contas no banco e para qual fim eram utilizados.

O último domingo do mês era o dia em que o casal sentava para fazer um balanço das suas finanças, Júlia como sempre a par de cada detalhe, calculava e recalculava cada tostão. Não que Júlia fossa algum tipo de carrasco ou ditador, não, ela era organizada, e acreditava que a prosperidade era sinônimo de uma boa economia. Júlia começou a tirar papeis e mais papeis de sua “pasta de contas”, começou a narrar os gastos, ganhos, poupos, e eticétera e tal. Aurélio como sempre, totalmente alheio aos numerais, afinal tinha plena confiança na esposa, seria fácil para Júlia passar-lhe a perna caso quisesse. Foi então que Júlia começou a falar “Aurélio, teremos que fazer alguns cortes, por um certo tempo, surgiram alguns gastos inesperados...", então começou a dizer que teriam que cortar isso, aquilo, aquilo outro, e mais, e mais e mais. Aurélio não entendera. Mas como assim não comeremos mais requeijão cremoso? Como assim comprar um sabonete mais em conta? Lan house? Cortar o talefone? Cota de cervejas? Atordoado lançou “Mas o que diabos houve?”. Júlia com um olhar sério e um sorriso de garçonete disse “Aurélio, eu estou grávida”.

A alegria do casal foi tanta nas três primeiras semanas que já nem ligavam pros cortes que teriam que fazer. Aurélio abandonara a cerveja, Internet e requeijão cremoso, nem se importava mais com a marca do sabonete. Júlia já media a barriga a cada cinco minutos e ficava repetindo “Veja Aurélio, acho que minha barriga está um centímetro maior”. A felicidade contagiava a casa, os amigos, a família, o emprego e todos os demais locais que freqüentavam.

Mas nem toda alegria é sinônimo de felicidade. As contas começaram a chegar. Pilhas e mais pilhas de números. Consultas obstétricas não são nada baratas. E como já foi dito: Não dispunham de grande saldo junto ao banco. Mais cortes. Aurélio começou a engraxar os sapatos ele mesmo. Júlia começou a não assistir mais tv, nem a comer aquele lanchinho depois do expediente com as amigas. Aurélio passou a almoçar no serviço mesmo, para economizar gasolina, já levava uma marmita com o almoço de casa. Júlia começou a cozinhar apenas uma vez ao dia para economizar gás. E mesmo com tantos cortes parecia que o dinheiro não dava, as dívidas só cresciam, se acumulavam. O desespero começou a tomar conta do jovem casal, afinal, nunca haviam passado por situação similar. Jamais haviam se sentido tão impotentes diante da vida. Júlia estava na décima semana de gestação.

Não tardou para que começassem as brigas. Aurélio dizia que Júlia devia ter tomado mais cuidado, tomado os anticoncepcionais, que eles não estavam estruturalmente preparados para a chegada de uma criança. Júlia ficava irada a ponto de ter trocado a fechadura da porta três vezes, obrigando Aurélio a dormir no corredor do prédio onde moravam. Aurélio por sua vez voltou a beber, escondido é claro, e até a fumar. Júlia começou a ficar mais paranóica e agressiva, tudo era motivo para quebra-pau.
Em uma tarde, enquanto assistia tv, escondida de Aurélio; pois vivia jogando na cara dele como ela conseguia se abster de algumas coisas enquanto ele só ficava choramingando pelos cantos, viu em um programa de tv, um desses sensacionalistas, que haveria um sorteio, no qual a família vencedora ganharia um prêmio em dinheiro, aliás um bom prêmio, sem falar na reforma da casa e do carro novo na garagem. Júlia não pensou nem sequer uma vez pôs-se a escrever cartas e mais cartas para o tal programa. Pegou um dinheirinho que ela já algum tempo escondia embaixo da mesa da cozinha, para caso de emergência, e enviou uma centena de cartas.

As bolas de boliche estavam lançada, Júlia cruzava os dedos por um strike, todos os dias ficava em frente a tv aguardando o resultado do sorteio. Até que emfim o dia chegou, as assistentes de palco gostosas jogaram as cartas para cima, o apresentador bestalhão fez uma ceninha, pegou a carta, a abriu vagarosamente, puxou para fora do envelope o conteúdo e leu o nome do grande vencedor “Júlia Ueno Pedrosa, do jardim Paulista, São Paulo capital!”. A emoção da vitória atingiu Júlia como um soco do Hollyfield . Ao acordar deparou-se com o teto branco da emergência do hospital, muitos fuzuê, uma andação de gente, e Aurélio parado olhando para ele com cara de bobo.

Tudo ocorreu muito rápido, a produção do programa entrou em contato com Júlia, foram até sua casa, gravaram o programa, ensaiaram o script com o casal, reformaram o apartamento, deram o carro, a grana. E tudo então parecia no lugar, no lugar que deveria estar. Júlia estava na décima quinta semana de gestação. O dinheiro serviu para quitar as contas do casal e ainda sobrou. Sobrou o bastante para alguns luxos. Algumas festas com os amigos. Um curto final de semana em Guarujá. E alguns jantares em restaurantes bem caros. Voltaram a comer requeijão cremoso e a usar sabonetes carérrimos. Tinham novamente Internet. Esbanjavam ao assistir tv e usar toda sorte de aparelhos eletro-eletrônicos. Aurélio podia sair com os amigos para beber sua cerveja, não só nas quintas-feiras, como antes, mas agora duas ou três vezes por semana. Almoçavam onde queriam, cozinhavam o quanto queriam, agora além de tudo que recuperaram, tinham também tv a cabo e até uma lavadeira. Tinham a sensação de ter encontrado ouro nos sapatos, ou petróleo dentro da geladeira. Agora a vida estava como devia estar. O casal não mais brigava, não tinham motivos, tudo era um verdadeiro mar de rosas.

Mas como dizia o poeta, Alberto salgado, nesse tal mar de rosas também há espinhos, espinhos de montão. Certo sábado a noite, quando Aurélio e Júlia jantavam, em um desses restaurantes com vinícola refinada, degustavam suas maravilhosas taças de vinho e conversavam sobre o pentelhozinho que estava por vir, o garçom se aproximou educadamente de Aurélio e disse “Senhor o seu cartão está sendo recusado”, Aurélio olhou para Júlia e indagou “Júlia...?”, Júlia deu de ombros com cara de desentendida. Aurélio não pôde compreender. Ainda tinha algum dinheiro vivo no bolso e pagou a conta com o mesmo. Na tarde desse mesmo dia Aurélio havia comprado um colar de ouro e pedras preciosas com o qual presenteara Júlia, mas sabia que mesmo com tal gasto ainda havia restado um certo dinheiro na conta conjunta do casal. Conta conjunta, essas palavras soaram como um sino na cabeça de Aurélio, que insistiu “Júlia...?”. Júlia avermelhou-se, parecia um pimentão, ficou cabisbaixa e confessou. Sim, havia sido ela, dizia q não pudera resistir, que aquela bolsa de couro de crocodilo a seduzira, que estava uma pechincha, disse que os sapatos combinavam com tudo e que ela faria jus ao preço pago. O casal discutiu pela primeira vez em meses, o caminho de volta foi comprido e nervoso.

Mas assim como uma avalanche pode começar a partir de uma pequena bola de neve, o caos financeiro que abalou a casamento de Aurélio e Júlia também começou ai, com essa bolsa e par de sapatos de couro de crocodilo. Não suficiente que o dinheiro acabasse, Júlia havia pedido demissão uma semana antes do ocorrido, afinal estavam mesmo “bem de vida”. As contas começaram pouco a pouco a se amontoarem sobre o criado mudo do quarto. De novo estavam no vermelho. De novo se foi o requeijão cremoso, a Internet, as cervejas,sabonetes caros, o direito de cozinhar a hora que quisessem, a ainda mais, foi-se também a tv a cabo, a lavadeira, os restaurantes, as festinhas de sábado e tudo, tudo mesmo. Chegaram a um caos, pois as despesas da riqueza eram ainda maiores do que as da pobreza. Sobravam faturas, contas e parcelas aos montes para serem pagas. Novamente o desespero se instalara no casal. Júlia não conseguiria um emprego naquele estado, já estava na décima oitava semana de gravidez. Aurélio de forma alguma iria conseguir algum tipo de aumento de salário e a idéia de um empréstimo o deixava com medo. Foi então que Júlia teve uma idéia, pensou em talvez entrar em outra promoção, talvez ganhassem, afinal eram “pessoas de sorte”. Então começaram a escrever dezenas de centenas de cartas, mas dana, nenhum resultado, obtiveram apenas mais gastos, agora com correios. Júlia teve cara de pau de ligar na produção do programa que os premiara de inicio com um papo mole de piedade e blá blá blá, mas não caíram na sua conversa e logo desligaram na sua cara, ela ainda retornou outras vezes, mas a produção proibiu a telefonista de passar qualquer outra ligação que viesse da mesma da parte de Júlia. Júlia obrigou Aurélio a se humilhar ainda uma vez, tentando ludibriar os produtores, mas o resultado não foi diferente.

O meses foram se passando e as coisas começaram a apertar, tiveram de fazer inúmeros cortes no orçamento. Agora sobreviviam apenas do salário de Aurélio. A tensão crescia dia a dia, as discussões se tornavam cada vez mais calorosas, bate bocas, brigas em alto tom, tom tão alto que foi chamado a polícia umas duas vezes ainda para conter o casal. As contendas chegaram ao ponto de um arremessar qualquer coisa que visse pela frente contra o outro. Nisso Júlia já estava na vigésima nona semana de gravidez.

As coisas chegaram ao ponto de Aurélio ter de vender o carro que ganhara no programa para quitar algumas dívidas com despesas médicas e outras coisas mais. Agora estavam na lama. O dinheiro não dava. Começaram a vender os móveis, sofá, geladeira e demais coisas que haviam ganhado no tal programa. Mas a pindaíba não findava, e não findaria enquanto Júlia não pudesse voltar a trabalhar. Após o nascimento do pequeno pentelho ainda haveria de se passar pelo menos mais seis meses para isso.

Aurélio e Júlia então decidiram, forçadamente, a tomar uma atitude drástica, decidiram que seria melhor Júlia ir morar com os pais no interior até ter o bebê, alugariam seu apartamento para um terceiro e Aurélio passaria a morar numa quitinete no subúrbio. E assim foi feito. Isso já na trigésima primeira semana de gestação.

Júlia e Aurélia ficaram cerca de um mês sem se ver. Falaram apenas uma vez ao telefone. A despedida não foi muito bonita, apenas um beijo seco e um até logo. Júlia triste, na casa dos pais, permanecia cabisbaixa, se sentia derrotada, envergonhada, perdera tudo e agora jazia na mesma cidadezinha de onde fugira anos atrás. Aurélio vivia bastante largado, comia pouco, ia para o trabalho de ônibus, pois também teve de vender o seu outro carro. Mas de certo agora não saia mais apenas nas quintas para beber com os amigos, pois passou a sair todos os dias, de segunda a segunda. Logicamente teve de trocar a cerveja pelos destilados e fora obrigado a fumar apenas cigarros ganhados nos botecos. A falência se acometera a vida de Aurélio e Júlia. Não tinham mais seu apartamento, nem seus carros, nem dinheiro, nem sequer um ao outro, nada.

Foi num madrugada de terça-feira que o celular de Aurélio tocou, como sempre relutou em atender por não conhecer o número e achar que se tratava de cobrança. Mas por fim cedendo a curiosidade recebeu a tal ligação. Sorte a sua, pois na linha uma voz lhe disse “Aurélio? Aurélio é você? Aurélio, aqui é o Bosco, Aurélio parabéns agora você é pai! É um lindo menino. Parabéns!”. A noticia deixou Aurélio desbaratinado. Não foi de imediato visitar seu recém-nascido filho. Esperou até sábado, quando fez a barba, as malas e partiu para o interior. Chegando foi sorrateiro e desapercebido até a casa dos seus sogros. Chegou, foi bem recebido. Umas das sobrinhas de Júlia guiou-o ate o quarto onde ela se encontrava com o bebê. Aurélio foi a passos curtos pelos corredor da casa, parou diante da porta deu umas espiada, pois a mesma se encontrava semi-aberta, respirou fundo e adentrou o recinto.

Ao entrar, deparou-se com uma cena inesquecível, Júlia deitada a cama segurava o bebê no colo, sorria alegremente e o ninava. O bebê era cabeludo, de cabelos claros, tinha as faces rosadas, e era bochechudo, mas não de forma exagerada, mas de forma que fizesse qualquer um desejar apertar aquelas bochechas. Aurélio ficou parado por um instante diante da cena, a muito não via Júlia tão linda e tão alegre. Júlia o olhou, sorriu e disse “Então que nome poremos?”. Aurélio sentiu o coração entre as amídalas. Caminhou até o leito, ajoelhou-se próximo a Júlia e o bebê e com voz trêmula disse “Eu te amo”.

As duas fases do álcool em uma determinada pessoa


O, C2H5OH, álcool etílico, é o elemento mister na preparação de qualquer composto de cunho alcoólico, que seja próprio para o consumo à seres humanos. O álcool causa efeitos diversos, em seres humanos diversos, aflora desde a tristeza mais recôndita até os desejos mais orgiáticos que possam haver em uma pessoa. O seu consumo, á longo prazo e em quantidades demasiadas, pode causar uma série de seqüelas, muitas irreversíveis, tais como: perda de memória, falta de concentração, e a perda da capacidade de assimilar novos conhecimentos. Ainda, pode causar cirrose, e também levar a morte por ser o propulsor de algum acidente.

Os 10 primeiros minutos:
Lá está ela, sentada, naquela mesa, num café no centro da cidade. Ela é o tipo de pessoa que sabe se sair bem em uma conversação. Educada, refinada, informada. Mas nada com excessos, nem por falar demais, ou achar demais, ou se impor de mais. No fim é alguém agradável para se conviver. Sempre bastante discreta quanto aos sentimentos, pensamentos, planos e idéias. A menos que você consiga dardear seu coração e ganhar sua confiança, entrará e sairá do cinema como quem não entendeu o filme. Mas como sempre digo “Nada melhor do que a Lager pra fazer uma mulher falar”. Eu aqui sentado, na cadeira que se encontra do lado oposto ao dela na mesa. “Duas Lagers, por favor?”, eu sei que é a sua cerveja favorita, e sei que não é preciso mais que uma garrafa para deixá-la a vontade. Peço-lhe um cigarro, “Um F. F.”. É agradável, do primeiro ao último trago. Eu apenas a observo, falo pouco, algumas piadas, então chega a Lager. Um, dous, três, quatro, cinco goles da cerva, e ela olha pro lado esquedo, como quem vai pór a mão na testa, sorri. Um sorriso engolido, quase aprisionado. Eu automaticamente sorriu também. Então, começa a sessão do riso. Eu mando um “Haha” de cá, ela responde com um “Hum hum” de lá. Em um momento ,constrangedor confesso, eu digo que estou com frio, ela me empresta seu casaco, que não fica nada bem em mim, é muito justo, ela fotografa a cena, que entrará para os anais das piadas de sábado, eu paraço um pseudo-clodoviu, isso sim. E por ai vai a conversa. Os devaneios começam a se aflorar, os planos começam a serem revelados, os amores bem ou maltratados, e os sentimentos verbalizados, em forma de palavrões. Ela continua e engolir sorrisos. São quatro da tarde. Chove bastante. Ela continua a engolir sorrisos. Eu me levanto e digo “Vou a toilette”.

Os dez minutos seguintes:

Eu fico parado no banheiro, me adimirando no espelho imaginário, e penso comigo mesmo “Gostaria que a Natacha estivesse aqui”. De retorno a ala de fumantes, encontro a senhorita Miranda, olhado o nada, e me olhando ao mesmo tempo, pelo menos é essa impressão que me causou, ela carrega uma expressão que eu gosto de chamar de “Cara de Marlon Brando”. Antes mesmo de me sentar, pergunto “Por que essa cara de Marlon Brando?”. Ela responde “Não é cara de Marlon Brando. É cara de desespero”. Eu retruco “Pra mim é cara de Marlon Brando”. Ela lança seu zap na mesa “Então acho que todos tem cara de Marlon Brando!”. Eu olho para baixo, e fico pensando. No quê? Eu realmente não sei. Ela olha para o lado esquerdo e fica pensando. No quê? Eu realmente não sei. A conversa daí pra frente soa avulsa, sem sentido, nexo. Apenas palavras ao vento. Ela por instantes parece não estar mais ali, então como um meteoro cai direto nos meus olhos com seus olhar de boneca de porcelana. Nesse dado momento é que reparo o quanto seu olhar é inquietador, reparo a reentrância que tem no nariz. Os sorrisos foram todos soltos. Agora parece que ela engole o desespero, e engole bem. Talvez esse seja o jogo do “Chupa e engole”, só que versão freudiana, com um pouco de Lager. Ela diz que não consegue beber mais. Eu finalizo sua Lager. O cinzeiro, em forma de xícara de madeira, já transborda com a inumérie de quimbas. Eu a olho, ela me olha, eu digo “Acho que é hora de irmos embora, já são cinco”. Ela continua o árdua tarefa de engolir desespero. Que para mim é tão doloroso quanto engolir espadas. Chove mais agora. Ela continua a engolir desespero.