segunda-feira, 26 de outubro de 2009

Conselhos de um velho sábio bêbado

O que você quer?
O que você espera da vida?

Vou perguntar de novo

O que você quer?
O que você espera da verdade?

Espera que a vida lhe ensine?
Que a verdade
arreganhe as pernas pra você
como uma dessas senhoritas de cabaré?

A verdade é que a vida não ensina
a vida não ensina qual é a verdade

Você espera o que?
Que a vida lhe abra a cabeça?

Abra-a você mesmo
Seja homem e encare as consequências dos seus atos
Faça escolhas
Cometa erros
Erre muito
Só assim se aprende
Nunca tenha medo de cometer o mesmo erro duas vezes
Nem tenha remorso por tê-lo feito
Nunca tenha medo de parecer um idiota
O pareça se necessário
e tenha certeza que parecerá
mesmo sem querer
várias vezes
Nunca deixe de ser você mesmo
Mesmo que isso foda contigo
Mesmo

Eis aqui uma verdade:Você sairá dessa vida tão nú quanto entrou
É isso mesmo
Não fique achando que a sua ética
ciência
e religião
o tornarão um ser humano melhor
Não tem como ser melhor do que humano
Não tem como um humano ser melhor
Nós não prestamos

Mas deixemos isso de lado
O ideal é que você finja
estar em harmonia
com uma baboseira qualquer
mas cuidado para não enganar a si mesmo
Pois o homem que engana a si mesmo
é ao mesmo tempo um sábio e um tolo
Sábio
por ter persuasão
tamanha
a ponto de convencer a sua própria pessoa
Tolo
por ser igênuo
o bastante
para ser enganado
por uma sábio qualquer
Tal como
um velho
sábio
bêbado

(Alberto Salgado)

Três por quatro

Eu me tornei sóbrio
sóbrio demais
Inseguro
inseguro demais
Cansado
cansado demais
Maduro
maduro demais
Adulto
adulto demais
Capitalista
capitalista demais
Medíocre
medíocre demais
Santo
santo demais
Enfim sozinho
sozinho

Eu me tornei poeta
poeta de menos
Criança
criança de menos
Sonhador
sonhador de menos
Cristão
cristão de menos
Bêbado
bêbado de menos
Pecador
pecador de menos
Feliz
tudo isso
menos feliz

(Marcelo Prado)

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Aqui se faz, aqui se paga!

Me tiraste o pensar e a concentração
Por isso, eu os tiro de ti também

Me tiraste o fôlego, suspiros e o ar.
Por isso a faço suspirar
e se não a faço
farei

Me tiraste o juízo e a sensatez
Agora sou um romantico insensato
descabido
Mas não falo isso com pesar
falo por me declarar

Ainda mais me tiraste
me tiraste o fluxo sanguíneo das veias
sinto meu cérebro desoxigenar
Por isso, se assim também se sentires
não te apavores
logo te acostumarás

A recatez
que pouco me sobrava
mas ainda existia
essa também já perdi
Tu bem o sabes
pois fiz me declarar a ti em um livral
lotado de passantes observadores

Por tanto
se contra ti revido e invisto retaliações
não o faço por vingança
mas por amor
Por quanto tudo que me tiraste
por cousa alguma lamento o estravio
Quando venho a ti
tirarte essas mesmas cousas
é porque quero que sintas o que sinto
que vejas o que vejo
E quero que me digas

Afinal o que é esse fogo que em mim arde?

Esse "fogo que arde sem se ver"

Será o, mito, amor?

(Flávio Linhares)

sábado, 17 de outubro de 2009

Ciclo vital – O grand finale

Seria mais ou menos assim, como que por sorte ou por advento do destino, eu haveria de ter passado pelo menos uma semana de ocorridos vastamente memoráveis á todos que estivessem ao meu redor. Uma semana, seria isso que pediria ao Pai celeste, ou seja lá qual for seu nome, ou seja lá o que é essa força que rege o universo. Mas de fato, sei que poderia ser pedir muito. Talvez o ocorrido se passasse na primeira ou segunda semana de janeiro, natal e reveillon são oportunidades ótimas para se entrar nos “Anais de casos engraçados da família”, é claro que começar o ano com a perda de um ente querido não é maçã-bananinha. Sim, acho que gostaria de morrer em janeiro!

Primeiro veio a minha caxola que seria menos doloroso e mais rápido morrer em um acidente, sim morrer em uma colisão frontal em altíssima velocidade, pronto, fim, mas por conseguinte me veio a visão da notícia ao chegar aos meus entes queridos, meu esposo, filhos (caso eu os tenha até lá) e familiares em geral. Imaginei, a cena de desespero, nesse tipo de acidentes, além da destruição de uma ou mais famílias alguém também sairia criminoso, o que seria um desfecho trágico para mim, trágico demais até. A cena do velório seria carregada de ódio, rancor, de lágrimas e indagações. Caixão fechado, isso com certeza aumentaria a dor, ser privado de um ultimo adeus á pessoa amada. Por isso, talvez uma morte mais clássica, clichê, fosse a melhor saída. Seria um dia como qualquer outro, um dia quente e carregado de secura, as crianças no quintal, ou ,não sei, talvez já fossem de idade suficiente para ter cada qual sua própria família. Meu esposo e eu assistindo á algum programa estúpido de domingo, relaxando nossas mentes de toda a metafísica existencial, e blá blá blás que cerca nosso mundículo. Talvez eu dissesse “Meu bem, tá um calor horrível, pega algo pra eu beber?”, ele como bom cavalheiro que é, assim espero, se levantaria prontamente, esquecendo-se da artrite e outras fadigas que assolam seu corpo velho (sim, espero já ser de idade avançada quando se passar o ocorrido) iria até a nossa cozinha, apanharia algo que me fosse aprazível. Mas ao retorno se depararia apenas com minhas carnes flácidas e enrugadas, estiradas no chão, ou mesmo no sofá, ou talvez próxima ao umbral da porta, sem vida. A expressão facial com a qual gostaria de me despedir desse mundo seria uma de paz, talvez isso servisse de consolo aos que me gostam. Eles diriam “Ela morreu em paz!”.
Gostaria que alguma dúvida pairasse sobre a minha fulminante morte, gostaria que coisas do tipo “Dizem que morreu de tanto rir” fossem ditas, ou “Assustou-se ao ligar a TV, depois de muitos anos sem assisti-la, e ver que Fausto Silva ainda era vivo” (se fosse Silvio Santos, tenho certeza que vocês também morreriam de susto, ou a Hebe).
Mas por fim, a verdade é que o tempo me levara o ultimo fôlego por falta de haver mais numerais na data de validade da minha embalagem. Os, átrios de meu decrépito coração começariam a se contrair e bombear o sangue no sentido oposto ao correto, causando fibrilamento no semi-átrio lunar, as válvulas não seriam capazes de estabilizar essa torrente de sangue que viajava as avessas, o que me levariam a uma morte rápida, seria como a pontada de uma agulha. Fim. Estaria findado assim meu ato, meu show, meu número. Deixaria alguns descontentes, outros saturados. Mas deixaria a vida na medida, assim espero.
Espero que meus chegados, entendam o porque de eu não querer velório, coisa que já aviso a muitos, tantos quanto posso, para que não haja dúvidas. Velórios são deveras tristes, onde deveriam haver homenagens existem por sempre lamúrias e desespero. Quero que entendam, que ali já não serei mais eu, e que se lembrem e cultivem apenas as imagens que de mim tiveram enquanto viva.
Do funeral, o funeral seria modesto, sem muitos fre-que-quês, gostaria de ser enterrada na fazenda da família, no Pará, nada contra cemitérios, mas é que assim me sentirei mais a vontade, em casa. Como epitáfio, e isso é muito importante, gostaria que constassem crivadas em minha lápide as seguintes palavras “Em verdade, em verdade vos digo que, se alguém guardar a minha palavra, nunca verá a morte. Jo 8:51”
Assim espero me despedir da existência física, espero partir deixando muitos inquietos, espero ter incomodado e estimulado muitos, espero não ter deixado nada para depois, nem arrependimentos ou coisas incompletas. Espero que meu fim não seja apenas mais um ponto final, mas que seja uma vírgula para uns, uma interrogação para outros e ainda uma exclamação para alguns. E quem sabe, talvez ainda, para aqueles que imaginam uma vida pós morte, uma reticências.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

O caso crônico de um peão-pião

Rodopiar

O tempo é enrolado
o patrão tem me enrolado
a greve... tem me enrolado
a vida tem me enrolado
(nos rodeios
sou eu quem enrolo, laço e amarro)
mas nos rodeios
rodeados
de voltas
que é o tal
amor
ninguem tem me enrolado tanto
quanto ''uma certa alguém''

Ela sim tem me enrolado

Chegou com muita conversa
sem muito falar
tão nada explicou

Só sei como se chama
e quanto calça

35

Mais nada

Eu a chamo de estranha

Só isso

Laços
cordas
nós
amarras
É,ela tem me enrolado

Tem me enrolado
nos laços
dos leus lábios
sempre que sorri
nas cordas
de seus belos cabelos
sempre que me proporciona o prazer de revê-los
nos nós
que faz com as mãos
enquanto fala
tímidamente
nas amarras
que encabrestaram e estabularam esse peão
É, acho que ela tem me enrolado

O primeiro peão laçado

Rodopiar
já não é um problema
já não vejo assim
Sempre que sou arremessado ao chão
faço meu papel de pião
rodopiar
mas quando as voltas acabam
e o babarte acaba
já me sinto sem função

Do que valeria esse pião
sem quem o enrolasse?
Nada
seria apenas peso de papel
Quero ser enrolado
rodopiado
e amarrado de novo

Sempre fui pião
não peão
Só não percebia

(Flávio Linhares)

Poeta, ou o retrato de algum poeta

A maior vergonha dum poeta
é quando o descobrem
e descobrem quem ele é
o descobrem de trás de seus versos
e o constrangem com isso
ele se sente desarmado
por não ser o que fala

Ele não fala do que vive...

Mas quem se importa?

Sejam os versos
singelos
alexandrinos
decassílabos
ou comtemporâneos
são só versos
são personagens
da cabeça do poeta

Por isso
Deixem os pobres poetas em paz!

Eles não são pessoas interessantes
isso é difícil de se ser
e se fossem
não serim poetas
seriam ricos
empresários
burgueses
conquistadores

A imortalidade dos versos
esconde o ser humano frágil
que é o pensador
No fim
apenas um mortal
Um pobre poeta

(Duda Teixeira)

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Raiz forte

Estou tentando tirar o álcool
a nicotina
e o alcatrão ,do meu sangue

Mas eles já se arraigaram
tanto
quanto
o conformismo barato
que se vende nas esquinas
arraigou-se
aos seres
dessa
sociedade
industrializada

(Alberto Salgado)

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Woody e além?

Eu sou um romântico ridículo
mas que romântico não é?
Eu sou um romântico ridículo
e amo isso
muitas vezes sofro por isso
mas amo isso
Por quê?
Por que vale a pena
vale muito
a experiência é única!

Sempre preferi o ímpar ao par
Me apaixonar, não me apaixonar?
Paixão
Tentar, não tentar?
Tentativa
E vale a pena
O que não vale a pena
é viver de forma medíocre
cheio de limitações inventadas por nós mesmos

Vocês já viveram uma paixão
daquelas que te vira a cabeça?
Sabe, que tira seu planeta do eixo

Eu tenho vivido isso
um antigo novo amor
nem sei o que pensar
Não sei se ainda sou calvinista

Não sei de mais nada
Só sei que trocaria todas as mulheres do mundo por ela
Trocaria de cidade
emprego
hobbies
e tudo mais
Mas o melhor de tudo é saber que eu não precisaria
Isso sim talvez seja amor

Só retificando, quanto as outras mulheres, delas eu teria de abrir mão
e abro com gosto
(Flávio Linhares)

Étrange

"Étrange

peut-être pourquoi si A doit

Étrange

Peut-être si charmante

Étrange

Peut-être c'est pourquoi je l'aime tant

Étrange

mais qui s'en soucie, avec un sourire de ceux qui pourraient être ce qu'il voulait

Étrangement, déjà dit l'étranger

Étrange"

(Flávio Linhares)

Tempos mais fáceis (ou "Tempos menos difíceis")

Lembro-me do tempo
quando a segurança vinha do âmago
quando as experiências
forjavam o caráter de uma mulher
e a palavra
valia alguma coisa
Minha vó me contou sobre esse tempo.

Me disseram que eu tinha cabelos cacheados demais
inveja
Me esqueci como os cabelos cacheados são belos
Alisei os meus inúmeras vezes

Me disseram que as gordinhas não eram bem vistas
crueldade
Bulimia é uma doença
mas a gente só descobre do pior jeito

Me disseram que eu tinha cara de nerd
que eu era espinhenta
e por isso nenhum garoto ia me querer
Paradigma
Nem me lembro mais o gosto de uma paixão
de um amor platônico

Me disseram que eu dançava mal
não me lembro por quanto tempo não ousei dançar

Me disseram que eu desenhava mal
não me lembro por quanto tempo fiquei sem riscar o papel

Me disseram que eu tocava mal
nem me lembro por quanto tempo meu violão ficou empoeirando no canto do quarto

Me disseram que eu cantava mal
nem o pobre chuveiro ouvia mais minha voz ultimamente

Me disseram que as nuvens não eram de algodão...

Me lembrei do que minha vó dizia
que ouveram tempos em a segurança vinha do âmago
que as experiências forjavam seu caráter
que as palavras valiam, e valiam muito

Ontem me lembrei
...me lembrei que as nuvens não eram de algodão

Ontem assumi meu cabelo
Dexei que suas ondas surfantes criassem inveja até mesmo as do Havaí
...me lembrei que as nuvens não eram de algodão

Ontem assumi meu tipo físico, oras sou assim, e sou linda assim
...me lembrei que as nuvens não eram de algodão

Ontem dei encima dos rapazes mais lindos do bar
ontem fui á caça, fui a dama de vermelho
...me lembrei que as nuvens não eram de algodão

Ontem dançei á beça
segui o conselho de uma amiga
ahora soy una dama a bailar
...me lembrei que as nuvens não eram de algodão

Ontem desenhei todas as minhas "amigas" bichas
e "elas" amaram, disseram que as caricaturas ficaram "mara"
...me lembrei que as nuvens não eram de algodão

Ontem subi no palco
e pedi uma palhinha
puxei "Wish you were here"
toquei com vontade
sem vergonha
me esguelei
e amei fazê-lo
...me lembrei que as nuvens não eram de algodão

ontem me lembrei quem sou
ontem me lembrei de minha avó
e do que ela dizia
ontem me lembrei de tempos mais fáceis, ou tempos menos difíceis


(Duda Teixeira)

domingo, 4 de outubro de 2009

Estudo sobre poluição

Os reis e a poluição

Profanaram a santa terra

Tantos carros, indústrias, fábricas, incêndios e eticétera e tal
poluíram a santa terra

Tantos outdoors
poluiem minha visão
vejo o mudo torpe
diferente
indiferente
pensado por outra cabeça que não é a minha

Tantas músicas
poluem meus ouvidos
poluem nossos lares
poluem nossas crianças
conspurcam a própria e soberana música

Tantas regras
poluem a justiça
maculam sua virgindade
que deveria ser intrincável

Tantos livros
tantas palavras
enodam a ignorância
A ignorância também é um tipo cultura

Tantas igrejas e religiões
profanam e comercializam a verdade
verdade que não conheço
aproveitam-se da inocência
deslustram o divino

Tanta poluição
me poliu
poliu minh'alma
polui minha visão
polui meus ouvidos
polui munha mente
polui meu espírito
me polui por inteiro
já não terei mais serventia

Como despoluir alguém?
Se souber me diga por favor

Estou poluído
você está sendo poluído
Estamos todos poluídos.
(Marcelo Prado)

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Parem vozes!

me dizem o que beber!
me dizem o que fazer!
merda!
me dizem como me vestir!
me dizem como andar!
como isso!
coma aquilo!
beba aquilo outro!
seja isso!
seja aquilo!
seja!
não seja!
deixe de ser!
o que querem afinal?
será tão engraçado?
bosta!
não eh engraçado
não!

Afinal o quê é isso tudo?

Do que se trata?
vida?
morte?
sexo?
dinheiro?
do quê?

não importa!
se tem um fim
não importa!
sem não tem, também não importa!
afinal irá continuar mesmo!

mas até quando?

até quando
fingiremos não nos importar?

até quando fingiremos controlar o destino?
até quando?

Como saber?
Nem sequer sabemos qual o prazo de validade carimbado nas nossa costas...

(Alberto Salgado)