terça-feira, 29 de setembro de 2009

Behaviorismo

Assim que nasci, me jogaram dentro de minha pequena jaula
Me olhavam, faziam suas caretas ridículas, falavam sua línguas estranhas
e discutiam, discutiam o meu futuro
Eles: os homens de branco

Eu ainda era um pequeno rato
três ou quatro anos de idade
eu dizia que queria ser presidente
eles diziam que eu deveria ser médico ou advogado
que eu levava jeito

Eu crescia dentro da minha jaulinha
e eles me diziam como andar
como me vestir
como comer
como me portar
como cortar o cabelo
mas nunca me disseram como pensar
imaginar
crer
amar
esperar
suportar
nunca...
nunca me disseram
Eles só me diziam "Rato faça isso, rato faça aquilo!"
"Rato, rato, rato..."

Eu cresci
e comecei a perceber que a minha jaulinha estava ficando pequena
pequena demais na verdade
eu quis sair
mas não era possível, não ainda
eles me diziam que era muito perigoso

Certo dia uma gata chamada "Vie" interviu em nossas vidinhas
tirando-nos de nossa zona de livre conformismo

Eu cresci mais
e coisas estranhas começaram a crescer em minha cabeça
eu tentei esconder
mas era difícil
era muito perceptível
os outros ratos na escola já começavam a me olhar torto
Na minha cabeça começavam a crescer asas
eu cheguei a arrancá-las
mas era inútil
elas cresciam de novo
e de novo
e de novo

Asas

Não parou por aí
Eu não parei de crescer
Até que minha jaulinha se tornou pequena a ponto de não me comportar mais
pus meus braços para fora
todos os outros ratos gritaram "Não faça isso, seu louco!"
Mas eu não tive medo
comecei a caminhar próximos as ratoeiras
comecei a desafiar os gatos
Eu nunca fui um simples rato
eu não sou simples rato

Passaram-se alguns anos de aventuras e desventuras
Fui dilacerado, estripado e caçado
Não minto, sofri bastante, mas também me diverti

Os homens de branco insistiam que eu pegasse o queijo
insistiam que eu deveria esperar as luzes acenderem
insistiam que os choques eram o caminho errado
Mas sempre fui o tipo de rato que morde o queijo até que pifem os fuzíveis...

Tentaram me condicionar... me condicionar seria impossível
Me tiraram o que eu tinha, varias vezes
Tentaram extinguir minhas esperanças
Tentaram me condicionar... me condicionar seria impossível

Descobri não ser o único
descobri que existem e existiram mais ratos como eu
ratos alados
Que não se limitaram as suas jaulas
Que não se limitaram a conhecer apenas as muitas salas de seus laboratório
Ratos de fibra
Que se jogaram janela a fora
e saíram voando pelo mundo

Hoje aqui estou a beira de minha janela

Uma última olhada para o laboratório

É hora de voar, aqui vou eu!
(Marcelo Prado)

(Por Anderson Bedin)

Transporte público! (É Público?)

Transporte Cúbico... (E não é?)

Transcorte Múltiplo... (Pois é...)

Transporte Estúpido... (Que o diga o povo...)

Transmorte Súbito. (...)

domingo, 20 de setembro de 2009

Verfluchte Liebe

O amor vem e vai
vem e vai quando bem quer
vem quando bem me quer
vai quando mal me quer

O amor
o amor é uma vadia controladora
é uma daquelas mulheres experientes
que nos arrasta na coleira
o amor!

maldito amor
amor maldito

maldito mas querido
querido amor

Me arrastou
me arrastou tempo demais

Há os que digam que ele possui o sabor de fruta mordida
hmn!

O amor
me menosprezou tempo demais
hoje será diferente
hoje eu vou menosprezá-lo
hoje irei olhá-no na face e fingir que não o vejo
vou virar a cara
vou olhar para outros sentimentos
Talvez eu dê bola para paixão
a paixão
a paixão é uma puta fácil
fácil mas pode servir
hoje
hoje essa puta vai servir

Hoje não vou dar bola pro amor
hoje vou me fazer de difícil
ele vai bater na porta
mas não vai entrar
hoje não vou dar bola pro amor
hoje ele não valerá nem um puto sequer

Hoje vou me perfazer de seguro
firme
sem amor
Hoje vou fingir que não há amor
que não acredito no amor
vou fingir!
fingir...

Maldito desejo de amar
sei que não vou me aguentar
mas pra início de conversa
eu vou fingir que sim
vou fingir
hoje eu vou fingir que não amo o amor
(Flávio Linhares)

sábado, 12 de setembro de 2009

Não quero mais essa vida pra mim!

Essa vida noturna
soturna
sempre na ponta dos pés

Lépido
flutuante
perdido

Não quero mais essa vida de "Barfly"
alcoolizado
encharcado
maltrapilho
caindo pelos cantos
rejeitado
largado
com bafo de fumaça

Não quero mais a noite
sexo, drogas e rock and roll
rock and roll, drogas e sexo
Eu sou um bom rapaz
Não sou um vagabundo!

Não quero mais o desespero
ligações
polícia
família

Não quero mais o riso retardado
nem os olhares consternados

Não quero morrer de overdose
Não quero morrer de cirrose
Não quero ser esfaqueado
Nem ser preso por algo que não me lembro de ter feito

Chega de vomitar na porta de estabelecimentos públicos
Chega de copos quebrados
Chega de esquecer meu próprio nome
Chega desses banheiros nojentos
Chega das mesmas frases e caras
Chega de paixões tipo "amostra grátis"
Chega de tudo isso
Chega!

Agora me carreguem para casa, por favor
Não consigo mais caminhar
Depois
Apaguem meu número das suas agendas
ou pelo menos não me liguem mais para farras
Talvez para ir a igreja, pra isso sim

Me larguem
respeitem meu cansaço
Não quero ser como vocês
Infelizes

Eu tenho uma razão para viver
E vou vivê-la

Por tanto digam "adeus" para o Mister
Vocês não me verão mais aqui
nunca mais!
Adeus para vocês também
Adeus para a noite
Adeus para as belas garotas
Adeus álcool
Adeus narguile
Adeus lucky
Adeus Mint
Adeus bar
Adeus amigos piratas
Adeus!

Não quero mais essa vida pra mim!

Não quero mesmo!

Não quero mais essa vida pra mim...

Não quero mesmo...

Não quero...Pelo menos não até a próxima sexta-feira
(Alberto Salgado)

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

"Deus"

Ouvi um homem dizer
"Eu odeio Deus"
Então um outro perguntar
"Mas o que é Deus?"
O primeiro respondeu
"Deus, é o papai noel dos adultos"

Ridículos

Nós
Cristãos
Ateus
Budistas
Agnósticos
Nilistas
Católicos
Céticos
Muçulmanos
Pagãos

Todos
Ridículos

Estamos engavetando Deus

Vendendo um Deus industrializado
Previsível
Com manual
Manuseável

Ridículos

Com Deus não se barganha
Deus não se tapeia
Nem se enrola

Tentem compreender de uma vez por todos
É impossível compreender
É absolutamente incompreenssível
Para nós seres finitos
Que condicionamos tudo
Ciência
Amor
Religião
Idiomas
Verdades e mais verdades

Que verdades?
Verdades inventadas não são verdades

Parem de inventar Deus!

Um pouco de respeito cairia bem
Um pouco
Pelo menos um pouco!
(Marcelo Prado)

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Se quiser vir comigo segure na minha mão e venha

Eu mal sei quem sou
mas sei o que não sou
e não serei isso só por você
Então se quiser vir comigo segure na minha mão e venha

Sei que me visto como um vagabundo
mas é assim que eu gosto
e não vou usar franja e listrado só por você
Por tanto se quiser vir comigo segure na minha mão e venha

Na maior parte do tempo sou rabujento
mas a vida me fez assim
se eu pudesse escolher outra vida
eu escolheria
mas não posso
espero que compreenda
Então se você quiser vir comigo segure na minha mão e venha

Olha, sou o que sou
por mais que você queira que eu seja indiferente
e eu sei que você quer
não, eu não serei
não serei relapso com aquilo que amo
Eu sou assim, romântico, ridículo
mas esse sou eu
Se quiser vir comigo segure na minha mão e venha

Sou beberão
perguntador
chego a hora que quero
saio com quem eu quero
fumo se quiser
ouço Chico Buarque sim!
e ouço muito
Por isso se quiser vir comigo segure na minha mão e venha

Eu não vou falar sobre o assuntos que não me interessem
nem vou fingir que ouço
Não vou aturar seus amigos idiotas
nem vou fingir que aturo
Se sua mãe ou qualquer outro da sua familia me destratar
eu rasgo o verbo
As vezes vou querer um tempo só pra mim
Sou egoísta
e gosto de minhas particularidades
Em fim se quiser vir comigo segure na minha mão e venha

A minha vida é um mar de rosas
e eu vivo a nadar em seus espinhos
e se você vier comigo vai se arranhar também
vai sofrer
tenha certeza disso
Então se mesmo assim quiser vir comigo segure na minha mão e venha
(Alberto Salgado)

Aviso ao sistema

Dizer o que é errado é muito fácil
Convencionar a verdade
Inventar paradigmas
Impor estigmas

Embriagar-se é errado por que destrói do corpo
E beber coca-cola?

Sexo assim é correto
Sexo assado é depravado
Sexo é sexo ora bolas!
E é muito bom de qualquer jeito

Tatuagem é isso ou aquilo
Caramba é só pele
Matéria finita

Fumar em local público agora é proibido
Proíbam os carros de circular também
Eles sim me incomodam
Eles sim destroem meu planeta

Dizem que os muçulmanos são um bando de assassinos
Desde quando enforcar alguém é um ato civilizado?

Corja
Alcatéia
Matilha
Bando

Desejo que vocês um dia consigam alguma desculpa pra me devorar
Assim quando eu estiver dentro de seus corpos
Minha alma negra irá atormentar suas mentes
Irei pô-los em uma sangria inimaginável
Até a morte se tornará consolo
Minha carne velha e doente
Lhes fará mal
Vocês apodrecerão vivos
Seu fedor será sentido em todas as esquinas
Enfim vão comer a si mesmos
Na esperança de amenizar a dor
Mas nada vos trará alívio

Pois se em vida fui um incomodo qualquer
Em morte serei a própria morte
A vossa morte
(Alberto Salgado)

Pergunta complicada essa!

O que eu espero de você?
O melhor e o pior
Mentiras e verdades
Água e vinho
Frio e calor
Riso e pranto
Preto no branco
Algum sentido para tudo isso!
Amor!
Ou seja lá o que for!
(Marcelo Prado)

Vazio

O que eu deveria querer?
Eu deveria querer algo
Eu provavelmente deveria querer algo
Mas o que?
Se não sinto falta de nada agora!
...
Pensando bem
Algo eu quero
Eu quero querer algo
Querer com força!
Quero querer!
(Duda Teixeira)

domingo, 6 de setembro de 2009

“Don’t try”

Cá estou eu pensando: Se eu pudesse escolher um epitáfio, qual eu escolheria? É estranho pensar nessas coisas, ainda mais sabendo que ainda viverei longos anos, mas por fim todos acabam pendurando suas chuteiras. E qual seria meu epitáfio? Penso que se eu morrer sem escolhe-lo ficará a cargo da minha família, ora bolas, eles colocarão algo como “Filho exemplar, amado por todos”, ou talvez caso eu tenha filhos “Pai, marido e amigo. Um eterno sonhador!”, besteira qualquer. Você deve estar achando interessante esse papo maluco sobra morte e tal, você deve estar se perguntando “O que leva alguém a se preocupar tanto com uma coisa como essas?”. Ao meu ver não é uma besteira qualquer, fico imaginando, será que me cremarão, como assim desejo, ou farão um daqueles velórios ridículos? Ou será que serei enterrado como um vagabundo, indigente qualquer pela minha amada pátria? Pior ainda, será que venerarão meus restos mortais por longos dias, tipo uns setenta? Eu aqui viajando, e você ai querendo saber logo como começou essa historia toda, calma, muita calma, venha comigo e saberá, e tenha certeza que valerá a pena.
Primeiro, de algum tempo pra cá tenho me sentido estranho, desprendido do mundo físico. Sabe eu fui caminhando por uma estrada torta, e já nem me importava com nada, mas um belo dia... um belo dia deparei-me com um girassol, ou melhor esse girassol se deparou comigo. Eu o olhei, colhi, cheirei e ... e foi principio de um precipício, eu na hora não percebi, mas aquele perfume, que trazia o girassol, jamais sairia da minha memória.
Segundo, continuei meu caminho; calado, confesso que pensei em desistir da vida um trilhão de vezes, mas continuei firme e forte, não sei bem se por orgulho ou esperança. Eu enfrentei batalhões, os alemães e seus canhões, fiz de tudo um pouco para matar o tempo e os fantasmas, mas chega uma hora que tudo isso dá no saco, daí pronto joguei todo para o alto. Me enrolei num cobertor e disse para mim mesmo “Vou ficar aqui até vencer o prazo de validade”. Até parece que eu conseguiria fazer isso.
Terceiro, então reencontrei alguém do meu passado, uma certa viúva negra. A princípio tudo normal, tranqüilo, mas então sem que eu percebesse estava me enterrando numa cova, num ninho, numa juquira ou sei lá o que, só sei que a escuridão começou a tomar conta do meu dia, aí, aí eu descobri, é eu realmente sou e sempre fui um vagabundo.
Quarto, a noite já ia estranha, as pessoas falavam pelos cotovelos, eu olhei para os lados, olhei para dentro, meu instinto dizia que dalí não podia sair coisa boa, mas como sempre, parei, pensei e disse “Que se foda!”. Bebi, dose após dose me entorpeci, contei até a décima sexta, depois, depois só Deus sabe. Não lembro praticamente nada dessa noite, mas ela não é importante, o importante foi o dia seguinte. Acordei junto com os galos, minha cabeça parecia pesar uma tonelada, eu ia ainda muito chapado. O que mais me chamou a atenção foi que mesmo eu estando muito louco ninguém percebeu isso, acho que devo mesmo ser muito estranho. Mas no caminho, enquanto minha mente flutuava lépida dentro do meu espaço corpóreo, eu pude reparar coisas, lindas, vi gatos pretos se amando, vi cachorros sorrindo, vi um cara gordo, meio careca, andando dançante e sorridente enquanto ouvia um i-pod. Vi a beleza nas coisas de um jeito que jamais havia visto, lágrimas imaginárias escorreram pelo meu rosto, sorrisos infantis saltaram a minha face, as palavras fluíam eu nem mesmo sei o que dizia. Fiquei uma semana assim, minha mente funcionando separadamente do corpo, as coisas eram automáticas, rápidas, precisas, robóticas, e tudo tinha um lisérgico ar de alegria.
Mas tudo passa, e talvez você passe por aqui e acabe lendo o que escrevi. O fato é que segunda feira tudo voltou ao seu lugar, chato, monótono, tedioso, rotineiro, medíocre, como sempre. O ar voltou a me deixar cansado, a luz voltou a me cegar, a comida voltou em forma de vômito, até a água se tornou intragável. Eu até tentei, tentei esquecer aquela sensação, tentei repeti-la, tentei simulá-la, mas nada deu certo, nada adiantou. Cá estou eu de novo pobre, podre, só.
Cá estava eu pensando, pensando em qualquer bobagem. Liguei a televisão e vi num programa desses até assistíveis, um repóter perguntando prum cara que eu não sei quem é “Um epitáfio?”, o cara respondeu algo q também não me lembro. Daí comecei a pensar, comecei a pensar, qual seria meu epitáfio? Pensei rápido, foi óbvio. Eu certamente pediria que escrevessem no meu túmulo “Acabou, finalmente acabou!”