domingo, 6 de setembro de 2009

“Don’t try”

Cá estou eu pensando: Se eu pudesse escolher um epitáfio, qual eu escolheria? É estranho pensar nessas coisas, ainda mais sabendo que ainda viverei longos anos, mas por fim todos acabam pendurando suas chuteiras. E qual seria meu epitáfio? Penso que se eu morrer sem escolhe-lo ficará a cargo da minha família, ora bolas, eles colocarão algo como “Filho exemplar, amado por todos”, ou talvez caso eu tenha filhos “Pai, marido e amigo. Um eterno sonhador!”, besteira qualquer. Você deve estar achando interessante esse papo maluco sobra morte e tal, você deve estar se perguntando “O que leva alguém a se preocupar tanto com uma coisa como essas?”. Ao meu ver não é uma besteira qualquer, fico imaginando, será que me cremarão, como assim desejo, ou farão um daqueles velórios ridículos? Ou será que serei enterrado como um vagabundo, indigente qualquer pela minha amada pátria? Pior ainda, será que venerarão meus restos mortais por longos dias, tipo uns setenta? Eu aqui viajando, e você ai querendo saber logo como começou essa historia toda, calma, muita calma, venha comigo e saberá, e tenha certeza que valerá a pena.
Primeiro, de algum tempo pra cá tenho me sentido estranho, desprendido do mundo físico. Sabe eu fui caminhando por uma estrada torta, e já nem me importava com nada, mas um belo dia... um belo dia deparei-me com um girassol, ou melhor esse girassol se deparou comigo. Eu o olhei, colhi, cheirei e ... e foi principio de um precipício, eu na hora não percebi, mas aquele perfume, que trazia o girassol, jamais sairia da minha memória.
Segundo, continuei meu caminho; calado, confesso que pensei em desistir da vida um trilhão de vezes, mas continuei firme e forte, não sei bem se por orgulho ou esperança. Eu enfrentei batalhões, os alemães e seus canhões, fiz de tudo um pouco para matar o tempo e os fantasmas, mas chega uma hora que tudo isso dá no saco, daí pronto joguei todo para o alto. Me enrolei num cobertor e disse para mim mesmo “Vou ficar aqui até vencer o prazo de validade”. Até parece que eu conseguiria fazer isso.
Terceiro, então reencontrei alguém do meu passado, uma certa viúva negra. A princípio tudo normal, tranqüilo, mas então sem que eu percebesse estava me enterrando numa cova, num ninho, numa juquira ou sei lá o que, só sei que a escuridão começou a tomar conta do meu dia, aí, aí eu descobri, é eu realmente sou e sempre fui um vagabundo.
Quarto, a noite já ia estranha, as pessoas falavam pelos cotovelos, eu olhei para os lados, olhei para dentro, meu instinto dizia que dalí não podia sair coisa boa, mas como sempre, parei, pensei e disse “Que se foda!”. Bebi, dose após dose me entorpeci, contei até a décima sexta, depois, depois só Deus sabe. Não lembro praticamente nada dessa noite, mas ela não é importante, o importante foi o dia seguinte. Acordei junto com os galos, minha cabeça parecia pesar uma tonelada, eu ia ainda muito chapado. O que mais me chamou a atenção foi que mesmo eu estando muito louco ninguém percebeu isso, acho que devo mesmo ser muito estranho. Mas no caminho, enquanto minha mente flutuava lépida dentro do meu espaço corpóreo, eu pude reparar coisas, lindas, vi gatos pretos se amando, vi cachorros sorrindo, vi um cara gordo, meio careca, andando dançante e sorridente enquanto ouvia um i-pod. Vi a beleza nas coisas de um jeito que jamais havia visto, lágrimas imaginárias escorreram pelo meu rosto, sorrisos infantis saltaram a minha face, as palavras fluíam eu nem mesmo sei o que dizia. Fiquei uma semana assim, minha mente funcionando separadamente do corpo, as coisas eram automáticas, rápidas, precisas, robóticas, e tudo tinha um lisérgico ar de alegria.
Mas tudo passa, e talvez você passe por aqui e acabe lendo o que escrevi. O fato é que segunda feira tudo voltou ao seu lugar, chato, monótono, tedioso, rotineiro, medíocre, como sempre. O ar voltou a me deixar cansado, a luz voltou a me cegar, a comida voltou em forma de vômito, até a água se tornou intragável. Eu até tentei, tentei esquecer aquela sensação, tentei repeti-la, tentei simulá-la, mas nada deu certo, nada adiantou. Cá estou eu de novo pobre, podre, só.
Cá estava eu pensando, pensando em qualquer bobagem. Liguei a televisão e vi num programa desses até assistíveis, um repóter perguntando prum cara que eu não sei quem é “Um epitáfio?”, o cara respondeu algo q também não me lembro. Daí comecei a pensar, comecei a pensar, qual seria meu epitáfio? Pensei rápido, foi óbvio. Eu certamente pediria que escrevessem no meu túmulo “Acabou, finalmente acabou!”

Um comentário:

  1. acho diferente te ler. você parece um roteirista frustrado com alma cansada às vezes. não conheço muitas pessoas que se pareçam assim.

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