quarta-feira, 17 de junho de 2009

Apenas nada


Um dia ensolarado, numa pacata cidade, numa rua qualquer, num ponto de ônibus, um homen qualquer; vestido de terno e gravata, cabelos penteados, barba feita, olhar distante, com uma caixa nas mãos, a segura com um cuidado demasiado e bem percepitível, uma caixa de sapatos, uma caixa com amarras feitas de barbante, uma caixa com varios furos. Não muito tempo se passa até que outro transeunte aprochega-se e senta, um homen de roupas simples, calça djeans, tênis, camiseta, cabelos de quem acabou de acordar, barba mal feita e olhar irrequieto.
Este segundo homem parece observar tudo ao seu redor, ele tem um olhar muito curioso, seus pés parecem ter vida própria; por ficarem saltitando o tempo todo, ele tem o incômodo hábito de ficar limpando as unhas umas nas outras, pura neurose, seu olhar leva seus pensamentos ao primeiro homem, que lá está pensativo; como se estivesse catatônico. Este segundo observa fixamente a caixa cheia de furos que o primeiro segura, observa com tanto ímpeto que o primeiro homem finalmente sai de seu trase e vira-se ao segundo; com um olhar sério e interrogativo, o segundo disfarça. Assim que o primeiro se distrai novamente, ele volta a observar a tal caixa, o primeiro ao sentir-se observado desliga-se de seu devaneio e volta a cabeça ao segundo, o segundo tenta de forma descarada esconder sua curiosidade. O primeiro homem observa o segundo de forma rígida por alguns instantes até que perde-se novamente no vago. O segundo pouco intimidado puxa assunto:
- É... calor né?. E espera a resposta.
- Bastante. Responde o segundo com um tom de voz seco.
- É... o senhor sabe que horas são?
- Não.
Seco
- É... eu sei, são quinze horas, vinte e três minutos e quarenta e... dois segundos. Sorri.
O segundo homem o olha com reprovação. O primeiro aquieta-se por um instante, então deslisa pelo banco de forma que se aproxima do primeiro.
- O senhor mora por aqui?
O primeiro olha impaciente e responde – Não!
- Hum... Eu moro.
O primeiro fecha os olhos e puxo ar impregando certa força. O segundo então tenta novamente iniciar um diálogo.
- Vem cá, o senhor sabe se já passou o 23?
- Não.
- Ai ai, é uma demora terrível, o senhor num acha?
- Uhum.
Acena com a cabeça afirmativamente.
O sengundo homem aproveita a aproximação e tenta lançar seu olhar por entre os buracos da caixa de forma que possa ver o seu conteúdo. Fica agitado por não conseguir e chega a cogitar a idéia de enfiar o dedo indicador em um dos buracos da caixa, mas logo desiste por imaginar que dentro da caixa possa haver algum animal peçonhento.
- Senhor! Sem querer incomodá-lo, sabe eu num sou o tipo conversador mas... confesso que estou muito curioso para saber qual é o conteúdo dessa caixa que o senhor segura.
O primeiro homem solta um sorriso de canto.
- Você realmente quer saber o que carrego nessa caixa?
- Sim!
- Mas primeiro me diga: O que lhe parece ser?
- Bem para mim é algum animal.
- E se eu lhe disser que não carrego nada nessa caixa? E se eu lhe disser que essa caixa está absolutamente vazia?
- Não creio nisso. O senhor não tem cara de louco.
- Bem... vou fazer-lhe uma pergunta, se você acertar a resposta; lhe digo o que carrego nessa caixa. Que tal?
- Fechado.
- Como posso encher uma caixa com algo e mesmo assim deixá-la mais leve?

O segundo homem balança o corpo por alguns instante demonstrando sua inquietação com tal pergunta e finalmente exclama.
- Essa é sacagem, não é possível encher uma caixa com algo e mesmo assim deixá-la mais leve. Se o senhor tem a resposta para essa pergunta então diga.
- É muito simples. Enchedo-a com buracos. Vê?

O segundo homem cruza os braços de forma infantil e fecha a cara, pois agora não saberá mais o que há dentro da caixa. O primeiro homem ostenta um sorriso leve, como se tivesse vencido o tal curioso, então diz – É um furão! Você sabe o que é um furão?
- Um furão? O senhor diz um daqueles ratos enormes?
Demonstrando uma certa repulsa.
O primeiro homem solta um rápido sorriso – Sim!
- Senhor sem querer me intrometer... mas, por que um homem tão bem arrumado como o senhor carrega um animal tão despresível como esse? Não seria meis conveniente ter um cachorro como animal de estimação?
- Sim, seria. Mas acontece que esse furão não é um animal de estimação...
- Então?
- Deixe que eu lhe conte uma pequena história. Eu tenho um irmão que desde muito novo se envolveu com drogas pesadas, sabe, ácidos. Hoje em dia, após passar alguns meses em tratamento, ele já se encontra sóbrio, mas uso excessivo daquelas substâncias afetaram sua mente, a maior parte do tempo ele é uma pessoa normal, meio lerdo, mas normal, porém durante a noite ele acorda desesperado tendo alucinações horríveis, ele diz que vê rãs caminhando por todo o seu corpo, entrando e saindo de todos os seus orifícios. Não sei se o você sabe mas o alimento favorito dos furões são as rãs. É por isso que trago esse furão comigo, estou levando-o para dar ao meu irmão. Entedeu?
- Entendi. A maior parte pelo menos. Sei que os furões comem rãs, mas me diga as rãs que atormentam seu irmão não são rãs imaginárias?
- Sim, assim como esse furão, que também é imaginário.

Por um instante o segundo homem arregala os olhos, desvia o olhar aos poucos do primeiro homem, sorrateiramente delisa pelo banco afastando-se do outro homem, cruza os dedos das mãos, fica impassivo, sem ação, não sabe o que dizer diante de um louco como esse, então torna a cabeça em direção ao primeiro homem.
- Será que onde o senhor comprou esse furão vendem pica-paus? Eu estou tendo um sério problema com cupins.

Um comentário:

  1. adorei esse texto cara
    espero podermos roda-lo logo

    e continue escrevendo, andei vendo uns filmes locais de escritores locais e eles são uma merda...esses seus textos são bons...serio

    ResponderExcluir