quinta-feira, 23 de julho de 2009

O maníaco da latinha.


“Uma certa , caridosa senhorita, que conheço, outro dia me disse: “Eu não gosto muito de contos, são sempre iguais. Você já reparou como sempre terminam da mesma forma? Sempre tem um final bizarro; a morte da esposa, do vizinho, do gato, da galinha...”. Pensei bastante nessas palavras, então decidi que deveria fazer por honrar os leitores dando-lhes algo menos medíocre que de costume. Nesse conto relatarei uma das minhas mais estranhas experiências vivida. Desde já obrigado. Chibolete.”

São 12:29, estou aqui deitado com a boca aberta cheia dentes esperando a morte chegar, na verdade estou esperando a hora de ir trabalhar, gosto de ser dramático em minhas narrativas. Ocasião que pede uma bela sobremesa, assim como qualquer outra ocasião. Começo a lembrar do almoço, miojo com certeza não é a refeição preferida de muitos, mas na atual conjuntura veio bem a calhar, miojo ao molho branco com calabresas e milho. Estou aqui deitado; tirando uma cesta, numa cama cujo dono desconheço, olhando para a foto que uso como papel de parede no meu celular e fantasiando coisas. Nas minhas fantasias sou Casanova, Calígula, Baco, ou eu mesmo. Meu libido me leva a fantasiar coisas estranhas, chocolate, sorvete, cerejas, morangos, leite condensado... Huuu leite condensado! Acho que tem umas duas latas de leite condensado no armário (Esqueci de mencionar, eu estou na casa da minha patroa, ela está em uma viagem de férias e me pediu que ficasse aqui). Levanto-me e vou até o armário da cozinha; o armário é branco, dividido em três grandes compartimentos, o superior e o inferior são fechados por quatro portinholas, o compartimento intermediário leva pequenas portas deslizantes de vidro. Lembro que as latas estavam na terceira porta do compartimento mais alto, a contar da esquerda para a direita. Aqui estão elas. Suas formas cilíndricas, levemente acinturadas, me provocam uma espécie de ereção mental. Elas se encontram uma encima da outra, o que me trás á tona delírios de HOLLYWOOD. Essa cena me lembra de alguns totens que vi em Recife. Eu pego apenas a que está por cima d’outra, a trago pra junto do meu peito e suspiro com força, para que até mesmo essa simples latinha de leite condensado possa perceber meu êxtase. Coloco-a encima do balcão de granito que divide a pequena cozinha da copa. Lá está ela, parada, formosa, deliciosa. Eu quase consigo ouvi-la dizendo “Me possua. Deleite-se em meu néctar lactoso”. Acho que estou ficando louco, talvez a solidão pela qual tenho passado esteja me fazendo surtar a ponto de ter fantasias com uma lata. “Consciência, você não é bem vinda, agora!”, digo para os ares. Na pia da cozinha, dentro do faqueiro, encontra-se uma daquelas facas enormes que são usadas nesses filmes baratos de suspense. Eu vou até ela, a pego, lavo; estava com uns restos de fígado. Eu afago a latinha, com bastante carinho, assim ela nem perceberá quando eu a apunhalar. Eu a apoio sobre o balcão, a olho com firmeza, e com um golpe certeiro a penetro com a enorme faca na parte superior junto á margem. O leite condensado jorra, é realmente impressionante, não imaginei que meu golpe teria tal resultado. Eu retiro a faca a esfaqueio de novo, só que dessa vez próximo a outra margem. Não jorra tanto leite condensado como antes. Acho que a “hemorragia” está coagulando. Eu giro a faca ainda presa no buraco. Enfio a faca no outro buraco e executo o mesmo movimento. Agora ela está absolutamente rendida a mim. Posso fazer o que bem entender com ela. De prima havia imaginado fazer coisas libertinosas usando o conteúdo dessa lata, mas levando em consideração os fatos. Eu estou sozinho. Woody Allen, certa vez, disse : “Não despreze a masturbação; é fazer sexo com a pessoa que você mais ama”. Por que diabos isso veio a minha mente? Começo novamente a pensar que estou perdendo o juízo. Afinal usar leite condensado para fazer “isso” seria meio nojento, mesmo porque... só de imaginar aquela mistura de leite condensado com... HURGH. Tenho outra idéia. Abro a geladeira, misturo algumas gotas chocolate, com um pouco de cereal de arroz, coco ralado, creme de leite e leite condensado. Pronto. Minha sobremesa está pronta.

Um comentário:

  1. Meu querido, só agora pude visitar o seu blog para agradecer a sua visita. Quanto ao seu conto, nas minhas aulas de estética, aprendi que somos atingidos sensorialmente pelço belo, pelo feio e pelo esquisito. Meu camarada, seu conto mexeu com todas as fibras de meu corpo. É de fato o esquisito que vislumbra e me faz dizer isto é belo! Parabéns, sinto-me honrado de estar fazendo este primeiro comentário em seu conto e fiz questão de colocar um link de seu blog lá no meu. Tenho certeza que visitarei muito este seu espaço, além do que ainda tenho muita coisa para ler por aqui.
    Abraços.

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