segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Sobre o autor

Álvaro Tavares Maia, nascido em 26 de março de 1990, na cidade de Teresina, Piauí, desde muito pequeno revelou inclinação para as artes. Entre o seu nascimento até completar 7 anos de idade mudou-se tanto quanto um nômade, morou em cerca de 6 capitais diferentes, devido a constante mudança de empregos seu pai. Aos sete anos de idade, já em Araguaína no Tocantins, começou a descobrir seu, modesto, talento para o desenho à mão livre, iniciando com trabalhos simples, tais como desenhos animados que retratava da televisão. Passaram-se alguns anos nisso, sua família se mudou novamente, dessa vez para Palmas, no Tocantins. Álvaro só viria a ter conhecimento de outros dotes artísticos na adolescência, no período de 7 aos 15 anos passou apenas como um nerd que tinha aptidão para o desenho, interessando-se também por histórias em quadrinhos, mangás e até ousando em alguns retratos de personalidades. Aos 15 Álvaro viria a descobrir uma nova forma de arte, o artesanato: macramê, filigrana, crochê e alguns outros tipos. Arte na qual não se especializou, nem era tão bom, mas fazia com gosto, e impressionava as pessoas pela vastidão, mesmo que ainda ínfima, de seus talentos. Junto com o artesanato descobriu o mundo, nessa fase da vida conservou os cabelos compridos, vivia cheio de peduricalhos e não tomava banho. Sonhava em deixar a barba crescer, fato que só foi possível aos 18. Passaram-se dois anos, onde neles Álvaro apenas levaria uma vida simplória, sem ostentação alguma. Só aos 17 descobriria uma leve inclinação para o teatro, começando a participar de uma oficina gratuita oferecida pela prefeitura de sua cidade. Aos adentrar no mundo das arte cênicas sua percepção das formas de expressão artística se alargou. Começando aos 17, além de atuar, a escrever alguns contos, manuscritos. Aos 18 terminou o ensino médio, largou o teatro e ficou um período estagnado. O grande sonho de Álvaro era cursar uma faculdade de cinema, coisa que parecia impossível aos seus olhos, por causa de sua condição finaceira. Aos 18 entrou em depressão, e começou a se tornar uma pessoa mais isolada e de gosto peculiar. Desde sempre fora uma pessoa excêntrica, mas nessa época suas manias começaram a se aflorar de tal modo que o obrigaram a procura ajuda de um psiquiatra. O tratamento psiquiátrico não foi necessário,Álvaro encontrou métodos alternativos, como afirma ele. Já aos 19 fez um blog, no qual postaria seus contos, desde os mais antigos; transcritos agora para uma versão digital, até contos com formas e estrutura variadas, que Álvaro aprendera a utilizar nesse ultimo ano. Seu blog se tornou um sucesso entre amigos e conhecidos, circulando na Internet e atingindo ainda algum público em outros estados do país. Ainda aos 19 Álvaro descobriu sua capacidade de produzir poemas, mesmo nada complexos e sem muito impacto. Aos ler Bukowski, diz ele, teve algumas luzes, para iniciar na poesia, sem deixar o conto de lado, e ainda sem abandonar a idéia de um dia escrever romances. Usava de heterônimos, pois assim se sentia mais à vontade para escrever o que bem entendesse. E é nesse ponto que começa a nossa história.

Era uma segunda feira, 9 de novembro de 2009, Álvaro chegara em casa, depois de uma leitura cênica, na qual participara, mas por algum motivo o sono não lhe vinha. Ele passou cerca de 1 hora e 48 minutos rolando de um canto para outro da cama. Levantou-se, bebeu um copo bem fundo de água e foi assistir tv, para seu grande arrependimento. Na tv iniciava-se o programa daquele senhor gordo e engraçado, Álvaro gostava de assisti-lo sempre que possível, mas nessa data se tornou memorável o episódio. O apresentador falava de alguns convidados que receberia, dentre eles um quarteto de poetas que iniciaram a carreira juntos, através de um blog, e que agora estariam lançando seu primeiro livro. Até ai nada fora do comum, até o gordo ditar os nomes dos quatro poetas “E também estarão comigo, quatro poetas ainda jovens, que iniciaram a carreira em um blog da Internet. Alberto Salgado, Flávio Linhares, Marcelo Prado e Duda Teixeira”. Os olhos de Álvaro se esbugalharam, o sangue parou de circular, ele sentiu um frio glacial na espinha, parecia que estava vendo o próprio Satã. Ele não entendia, não podia. Tentou ser racional, se controlar, piscou os olhos freneticamente. Não era possível, ele havia de ter ouvido errado. Sim, essa era a única explicação plausível para tal. Devia ter confundido os nomes, afinal estava cansado e não conseguia dormir, seu cérebro estava lhe pregando uma peça. Álvaro ainda aguardou dous blocos do programa para ver a tal entrevista. Pareceu que o choque que havia sofrido no começo do programa não fora nada diante do segundo choque, o choque da confirmação dos nomes. Não se tratava de uma confusão auditiva, eram realmente Alberto Salgado, Flávio Linhares, Marcelo Prado e Duda Teixeira que estavam no palco do gordo. Mas como? Como era possível que existissem quatro poetas, que começaram a carreira num blog, que escreviam em conjunto, cujos nomes fossem os mesmo nomes que ele usava como heterônimos? Isso mesmo o grande espanto de Álvaro era por tal circunstância. Como já havia sido dito ele usava de heterônimos para escrever seus poemas e agora estava diante de quatro poetas que carregavam os mesmos nomes de suas outras faces. Até ai, sim confessamos, é espantador, mas o que seguiria era pior ainda. O gordo pediu que um dos poetas recitasse um poema, então levantou-se Flávio Linhares e com sua voz cheia de romantismo começou a declamar um poema chamado “Woody e além?”. Álvaro não poderia crer naquilo, agora já era demais! Como podia além da coincidência de nome, haver alguém que escrevesse um poema exatamente igual ao que escrevera com aquele heterônimo? Agora o sangue de Álvaro esquentava dentro de suas veias. A raiva explodia dentro de seu coração. Alguém estava fazendo fama as custas de seu precioso trabalho! Sim, era isso. Essa era a única explicação. Descobriram-no e se aproveitaram de seu anonimato para usurparem-lhe a poesia. Ora bolas, mas isso não ficaria assim. De forma alguma. Ele haveria de fazer algo. De certo os processaria, processaria o gordo, a emissora de tv e quem mais conseguisse, ou estivesse no seu caminho. Nessa noite obviamente ele não dormiu nem um segundo sequer. Acordou cedo e foi trabalhar, sim trabalhava, apesar de seus notável talento para a escrita ainda não obtivera nenhum reconhecimento, por tanto trabalhava em um desses empregos secundários, era recepcionista de um hotel. Chegou no serviço com uma cara de zumbi. A noite havia sido péssima, mas o dia, esse dia, só tinha o que piorar. Ao chegar no serviço, sorrateiramente, acessou a Internet e foi direto a página de seu blog. Assustou-se quando o navegador acusou a inexistência do mesmo, claro que não passou de um erro na digitação do endereço, afinal estava muito nervoso, com mais calma digitou novamente o endereço desejado, agora conferindo letra por letra “www.cistocilicose.blogspot.com”. Logo a página foi carregada, ele sentiu um leve alívio no peito. Viu que estava tudo lá, nem um post a mais nem um post a menos, inclusive os dous últimos textos em que trabalhara na tarde anterior. Ufa! Ele clicou em “Login”, digitou seu e-mail, digitou a senha, porém... Nada, apenas a mensagem “senha incorreta”. Não era possível que tivesse errado a senha, era a mesma para todas a ocasiões. Mesmo assim ele tentou novamente, e de novo, e de novo e de novo, porém sempre a mesma mensagem “senha incorreta”. Ele não sabia se ficava nervoso, espantado, atordoado, doudo, ou o que. Aquilo não podia ser real. Havia de ser um sonho. Não, sonhos não são tão longos. Era previsível que eles fizessem algo do tipo,afinal roubaram seus textos, teriam também de roubar seu blog. Agora não lhe restara nada, ou quase nada, ele tinha alguns amigos que poderiam testemunhar a seu favor, amigos que leram seus textos e que foram personagens de alguns. Sim, nem tudo estava perdido. O necessário era encontrá-los. Primeiro ligou para sua fã mais inveterada: Cleciara, “número inexistente” acusava a mensagem eletrônica. Estranho, haveria ela mudado de número e não o avisou? Logo em seguida ligou para seu amigo de longa data, Lázaro, “numero inexistente", o que não era grande novidade afinal o Lázaro vivia perdendo as coisas pelo caminho. Ligou para o Euzamar, nada, ligou no seu trabalho, a funcionaria o desconhecia.“Será possível que deram fim nos meus amigos?”, pensou ele. Ligou então para o André, Jânio, Werlles, Waylla, Wallissia, Thaise e nada, sempre o mesmo resultado. Desesperado foi a casa da Nana Caê, e para sua surpresa, ninguém, ninguém parecia ter algum dia ter morado ali, nem casa havia no local, perguntou para os vizinhos a cerca da família que ali morava, disseram que nunca houve família alguma ali, nunca houve casa alguma ali. Dar sumiço em uma casa inteira, será que chegariam a tal ponto? Será que sua obra era tão valiosa para que a roubassem descaradamente e ainda acabassem com sua vida e a vida de todos ao seu redor? Ele não podia compreender. Pegou o celular e continuou a discar os números de sua agenda: Pablo, Rafael, Kennedy, Ariane,George, Guilherme e nada, não conseguia achar ninguém. Ligou até para o Anderson (Gaúcho) que não era um ávido leitor mas já havia lido algo no seu blog. Ninguém. Era como se todos eles jamais tivessem existido. Álvaro por fim teve a idéia de acessar o Orkut e o MSN, enviar algumas mensagens para alguns amigos, ver se encontrava alguém na rede que pudesse testemunhar em seu favor. Foi a uma Lan house. Mas nada. Nem sequer conseguira acessar seu e-mail, “senha ou e-mail inválidos” dizia a mensagem eletrônica. Não tinha mais cadastro no Orkut, Hotmail nem em outro servidor qualquer. No momento em que foi retirar-se do estabelecimento, sacou a carteira para pagar a conta e notou, com estranhes, que seus documentos não estavam depositadas nela, no instante nem pensou na dimensão daquilo, simplesmente pagou a conta e foi para casa, muito atordoado. Ao chegar em sua residência deu de cara com portas e janelas fechadas, sem falar no enorme cadeado que proibia a entrada de qualquer um. Pendurada no muro havia um grande placa “Vendo” com um número de imobiliária embaixo. Não ponderou em ligar para a imobiliária e perguntar o nome do dono. Descobrindo ligou de imediato para o mesmo, que não passava de um estranho, que disse haver construído a casa a pouco mais de um ano, mas ainda não conseguira vendê-la. Não, não era possível uma coisa dessas. Como assim a construiu a pouco mais de um ano? Álvaro esteve morando naquela casa nos últimos 9 anos. Pelo menos era isso que acreditava. Fato não bem tão real, como iremos mostrar. Álvaro sentou-se na calçada, pos a mão na testa. Suava frio. Tremia, feito uma vara de bambu ao vento de um tornado. Pegou o celular, apertou o 2, número de discagem rápida que usava para sua namorada. O visor do celular apenas acusava número desconhecido, o número de Luciana não estava mais gravado na agenda. Como não? Quem o apagara? Num segundo olhar Álvaro pôde perceber que nenhum dos outros números de amigos ou familiares constava na agenda, como se alguém os tivesse apagado. Mas quem? Ninguém além dele tocava naquele aparelho. Subiu na “Poderosa”, sua pequenina moto, e foi rumo a casa de sua mãe. Nem foi tanta surpresa não a encontrar no local, muito menos o surpreendeu o relato de uma vizinha que alegou nunca tê-la visto, ou mesmo ouvido falar dela. Inutilmente Álvaro ainda foi até foi até seu local de trabalho. Não o reconheceram, acharam se tratar de algum pedinte, ou algum lunático, ou pior, um drogado. O escorraçaram para fora do recinto. Álvaro não tinha mais a quem recorrer. Simplesmente não havia mais registros de sua existência. Nada. Agora ele era simplesmente nada. Ainda outra vez foi a uma Lan house, imaginou que talvez se escrevesse novos textos e os guardasse em segredo poderia provar que tinha escrito todos os outros, um especialista naturalmente iria reconhecer a estrutura e linguajar usados. Álvaro ainda ficou um pouco diante do computador, parado, os dedos simulavam movimentos de quem digita, mas nenhuma palavra era mostrada no monitor. Ele simplesmente não conseguia imaginar, criar nada. Alguns minutos diante do computador foram o bastante para Álvaro perceber que até mesmo a capacidade de escrever, tanto contos como poemas, lhe fora tirada. Agora sim, já não lhe restara nada. Nada mesmo. Nem identidade, nem família, nem amigos, nem documentos, nem emprego, nem casa, nem amparo, nem idéias, nem consolo e nem dinheiro. Álvaro sabia que na sua carteira não encontraria um puto sequer e que não poderia pagar a Internet que estava utilizando. Como ultima medida decidiu acessar seu antigo blog, que fora saqueado pelo quarteto de impostores, e enviar-lhes uma mensagem, alguma mensagem, não sabia exatamente o que, uma ameaça, uma súplica, não sabia o que, só sabia que devia fazê-lo. Era doloroso para ele ver todas aquelas palavras, que saíram da sua cabecinha, serem atribuídas a um bando de larápios. Ao abrir da página esquecera-se imediatamente da idéia de enviar a tal mensagem, de primeira bateu os olhos no título do ultimo texto postado “Sobre o autor”. Suas pernas enfraqueceram-se, se não estivesse sentado cairia de boca no chão. Seria possível isso, ele não lembrava-se de tê-lo escrito, era um conto, quase uma biografia, contava detalhadamente a história de Álvaro, a sua relação com as artes, como começara a escrever, atuar, desenhar, falava de uma forma fictícia, dando a entender que era apenas um personagem. Álvaro não podia acreditar, o conto narrava desde o seu nascimento até aquele dado momento tão desgostoso de sua existência. O conto narrava a noite anterior, quando viu no programa do gordo os quatro outros poetas, falsários. Narrava o sumiço dos amigos e família, exatamente da forma que acontecera. Ele não podia entender. Será que o haviam seguido, e relatados todos os seus passos? Por fim, o conto narrava o exato momento onde ele escrevia o conto, e enquanto escrevia ria de si mesmo, que era o personagem principal, que lia no seu próprio blog o conto que escrevera. Sua cabeça virou uma loucura. Agora não se sentia mais um ser vivo. Talvez nunca tenha existido. Talvez não tenha passado de um personagem virtual. Digital. Já não sabia mais se havia criado Alberto Salgado, Flávio Linhares, Marcelo Prado e Duda Teixeira, ou se eles o haviam criado. Ele já não sabia o que era real ou não. Onde se limitava a existência. O que era o nada. Se essa voz que ele ouvia na sua cabeça era sua consciência, ou a voz de um dos supostos narradores que ditava sua história, ou se mesmo era a voz de algum leitor que por um acaso, ou por indicação estava lendo o seu, ou não seu, blog. Ele já não sabia de mais nada. Só que agora também era um ser tão fictício quanto real. E que provavelmente nada disso estivesse acontecendo, mas que no fim das conta, esse conto, está se passando apenas na sua cabeça querido leitor, e deixará de existir assim que parar de lê-lo. Por tanto, esse não é o fim, pois ainda ficará na sua memória a minha história, ou pseudo-história, ou conto, como quiser chamar. De como eu escrevi um texto, onde eu mesmo era o personagem principal, onde esse tal personagem-eu lia um conto a respeito de si mesmo, que ele mesmo havia escrito. Confuso não?

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