terça-feira, 7 de abril de 2009

Uma carta aos que respiram.

Dedico esta mesma a ela. Ela que todos nós, artistas, conhecemos. Ela que todos nós um dia possuímos, ou que mesmo fomos possuídos por ela. Sabemos que sem ela não teríamos tal título , que não o temos por causa de nossos dons, o temos por causa de nossas dores, tormentos, obsessões e paixões. Sabemos que só os desgraçados podem ser artistas, que não fomos nós que escolhemos a arte, que foram as desgraças que nos escolheram. Sabemos que sem ela, a rainha da arlequinada, a mãe das artes, a semente da loucura e da incompreensão não veríamos as cores da noite e nem o cinza nas flores.
Sabemos que ao contrário do que muitos pensam ela não nos invade, nós não a dominamos, ninguém a pode acorrentar; ela vem e vai quando bem quer, ela é a donzela de muitos, de uma só, de ninguém. Sabemos que ela só vem quando estamos em frangalhos, humilhados, ensandecidos e embriagados de alguma cólera; quando a febre está a nos queimar e os nossos gemidos ecoam por entre as estrelas, ouvimos os sons de seus guizos, vemos as serpentinas que a precedem, vemos suas um milhão de cores que se arrastam por de traz de sua branca face, seu sorriso venenoso e seu olhar de medusa. Paralisados como estátuas de sal, recebemos o seu toque, ela nos toca como se fossemos uma criança embasbacada; sorri e nos beija a face, com uma boca vermelha de um batom escarlate, marcando nossos corações, que jamais serão os mesmos de outrora. Agora sofreremos eternamente os prazeres e tormentos da saudade de tê-la, de compreendê-la, seduzi-la; sentimos um tremor que nos sobe desde os pés até os céus quando sua boca se aproxima de nossas orelhas e sussurra as respostas as quais esperamos a vida toda.
Vocês sabem bem do que eu estou falando! É nesse momento que uma explosão de epifanias toma conta de nossas frígidas almas, é nesse momento que ela nos diz o que escrever, o que cantar, o que pintar, como dramatizar, então tudo se faz luz, as mãos trabalham sem a cabeça, a cabeça sem respirar e o coração se dilata a ponto de no faltar o ar.
Vocês sabem do que eu estou falando! Aqueles devaneios todos foi ela quem os causou. Graças dou por ter nascido tão sem sorte, por ter nascido com a alma furada, se eu não fosse metade ela não me preencheria. Somos apenas loucos, desgraçados, apaixonados; atormentados eternamente pelo beijo que ela nos deu. Glorificada seja! A nossa deusa, a nossa sereia, a causadora de nossas bem-aventuranças e tragédias, das nossas fúrias e júbilos, ela é a responsável pelo cataclismo que somos, ela é a nossa força, nossa morte, nossa vida. É a nossa amada e bela “inspiração”.

3 comentários:

  1. É, alguém realmente está inspirado por aqui!

    Bom, muito bom.

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  2. é es poeta...
    utilizou uma das minhas palavras favoritas devaneioss.

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  3. E aí Rapaz!

    Foi bom colocar suas coisas em um Blog, assim você pode divulgá-las.
    Esse último me lembro de ter lido ainda na versão manuscrita; é um texto legal.

    Bem... em geral, os textos estão bons, salvo algumas inapropriações.

    De qualquer forma, lhe cumprimento pela atitude!
    Continue a escrever.

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