sábado, 4 de abril de 2009

Basta você ler...

Quando quero dizer algo as palavras me fogem tão rápido quantos as garotas quando eu sorriu. Quando tenho que tomar alguma atitude, mesmo que seja inventar uma pequena mentira, não sei ao certo como fazer.
Sempre fui um bom samaritano, mas o fato é que não há gratidão no universo, só interesse, alguns criticam os que demonstram segundas intenções, mas os criticam por pura hipocrisia, pois se requer planos para alcançar objetivos, não existe o tal altruísmo a não ser em forma de palavra, é claro! Como dizia a minha antiga professora “Não faça aos outros o que você não quer que lhe façam”, isso é altruísmo? Todo o bem que canalizamos não é bondade, é investimento, queremos pedras em nossas coroas. Não importa quantos planos executemos, nem quantos objetivos alcancemos; sempre alguém ficará descontente, se sentirá injustiçado; esse alguém pode ser você, eu sei do que falo, já aconteceu comigo, nem sempre adianta ser o melhor.
“Quando você muda o mundo se transforma”. Assim tenho sido eu a vida toda, me doando a um egoísmo estimulado por uma falsa idéia de altruísmo, praticando o bem que ao fazer para os outros fazia para mim mesmo; tantos investimentos que no fim eram insuficientes, alguém sempre ficava descontente; eu.
Afinal quando se define quem é merecedor do que? Me senti injustiçado por diversas vezes, até entender como a sistemática social funcionava, se eu tivesse entendido antes teria poupado esforços e me concentrado nas coisas certas.
Toda bondade que se faz pode ser proporcionalmente refletida ou inversamente retribuída; você não é indispensável, você é absolutamente descartável, tudo o que você faz, outro já fez melhor e outro fará novamente. É como jogar uma moeda; a única certeza é que temos 50% de chances de acertar. Você tem que apostar o tempo todo. Escolher sem se esquecer que a vida é como um restaurante; você come e depois paga, você pode até saber o preço, mas dificilmente se safará da conta lavando pratos.
Imaginem-se como um mero copinho de plástico, um copinho de café, observando o prazer que o Homo sapiens demonstra ao ingerir o seu conteúdo, mas isso só dura até o café acabar, então você é amassado e atirado ao cemitério dos copinhos, então tudo se faz trevas. Imaginem-se sendo despertados por uma batida violenta, alguém infligindo golpes contra o seu corpo, claro você é apenas uma porta. Imagine o quanto deve ser entediante ser aberto e fechado o tempo todo, demora até você perceber que a sua função também é importante, as portas guardam as coisas, guardam as pessoas, ninguém dorme tranqüilo em saber que não se tem uma porta para o proteger, as portas são testemunhas fiéis de beijos apaixonantes e de violentas discussões, até mesmo de crimes ou surpresas agradáveis, mas a única coisa que recebem em troca são batidas (graças a Deus que existem as campainhas) quando ficam velhas e empenadas as portas são jogadas num canto para apodrecerem ou são usadas como lenha.
Saber que não existe gratidão no universo não é muito motivador; é como lançar um anzol com isca ao ar esperando pescar um peixe voador. Certa vez conheci um homem que também havia feito tal descoberta e decidira ser ingrato com a vida trocando-a pela morte, tomou um frasco de remédios anti-depressivo, acho que ele queria morrer feliz, o fato é que ele não morreu feliz; o fato é que ele não morreu, ele diz ter vivido uma outra experiência, ele diz ter “evoluído”, alguns diriam que ele teve uma epifânia, mas todos esses conceitos podem ser discutidos. Afinal a verdade é mesmo relativa. Bem, ele diz ter se sentido como uma pequena abelha, o vento sacudia suas antenas, suas asas batiam a uma velocidade incalculável, deslumbrava-se com sua própria compleição, era como um raio em preto e amarelo, se punha a polemizar as flores com uma alegria e satisfação jamais sentidas antes, até que tudo se findou com um golpe certeiro de um jornal arremessado por uma dona de casa que parecia se sentir extremamente ameaçada pela minúscula abelha. Esse tal homem diz que sua experiência não se deu apenas em entender os “sentimentos” de uma abelha, após isso ele diz que transcendeu ao nível de um planeta, a própria terra e que foi muito angustiante e doloroso ter que agüentar o peso da culpa dos homens nas suas costas, ser cortado, queimado e furado o tempo inteiro, saber que esse “câncer ambulante” chamado homem vai te matar aos poucos.O quão pior ele poderia se sentir? De súbito ele se encontrava em um trono, ele se sentia onipotente, onisciente, onipresente, sentia que a vida pulsava de suas veias, sabia que nada se encontrava acima dele, sabia que abaixo dele estava a maior expressão de amor do universo, a vida, sabia que tinha o que todos aqueles seres procuravam, que bastaria olhar-lhe nos olhos e clamar-lhe por perdão, mas ao invés disso todos aqueles seres ficavam perdidos feito baratas tontas. Bem que minha mãe dizia “É melhor mexer com bicho do que com gente”. Essa é a pior de todas as solidões, o que te mantém vivo é o amor, se isso acabasse todo o resto acabaria. Esse homem acordou de sua tentativa frustrada de suicídio possuidor de toda essa ciência, mas a essa altura o amor já havia acabado em seu coração, tal experiência apenas lhe trouxe a convicção de que nada mais resta neste mundo. Então pensou em tentar novamente o suicídio, pensou desta vez em um método mais eficaz, pensou desta vez em todos os detalhes inclusive o de deixar um bilhete, no qual citaria as palavras “Me matei e não foi acidente”. Por outro lado é claro que não poderia partir sem deixar pelo menos relatada essa experiência maravilhosa que tivera, não poderia morrer com todo esse entendimento só para si, seria um tremendo gesto de egoísmo, decidiu escrever uma carta que bem expressasse todas as suas conclusões e sentimentos. Se em alguém restasse amor essa atitude valeria a pena. Por tanto se em você que está lendo esta carta ainda resta amor, ainda lhe resta tempo de mudar. Se você está lendo esta carta é porque me matei e não foi acidente.

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