segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Ângela!

Era por volta das quatro da tarde. O sol torrava minha cuca. Tava tão forte que eu quase poderia ver miragens ou alucinações. Bem, eu estava voltado pro escritório depois das minhas quatro horas de almoço. Decidi ir a pé mesmo. Tava com preguiça de pegar ônibus e coisa e tal. Andei alguns quarteirões. Distante, pensativo, eu seguia com as mãos nos bolsos e cabisbaixo. Foi quando percebi que um baú parara no ponto a minha frente, e dele descera um passageiro. Melhor dizendo; uma passageira. De primeira não dei muita bola, estava distraído. Tava com uma puta vontade de fumar, mas tava quebrado, sem nenhum puto no bolso. Foi quando, como que por acaso, senti o cheiro do tabaco queimando no ar. Olhei para frente e vi... Uma deusa, ou uma diaba, não sei.
A moça que descera do ônibus. Era loira. Tinha os cabelos na altura dos ombros, pontas levemente onduladas. Blusa vermelha. Calça jeans, tão apertada que parecia que iria estourar. Tinha um olhar gélido, maligno. Mas um belo par de ancas, e que anda meu Deus! Os seios, pareciam estar prestes a saltar da blusa direto na minha cara. Sim, eu a observava como um velho tarado. Talvez ela não estivesse percebendo, afinal eu estava de óculos escuros.
Após descer do ônibus, ela parou, puxou um cigarro da bolsa, que trazia de lado, e o acendeu. Aquilo foi fulminante. Achei que fosse morrer naquele momento. quisera eu ter uma câmera fotográfica para documentar aquele momento. Enfim, fiquei estonteado. Ela parecia caminhar em slow motion.
Ao passar por mim ela simplesmente ignorou. Não me notou, ou fingiu não notar. Parei por um instante, abaixei os óculos e dei meia volta. Ma aproximei e disse:
-Olha sei que não nos conhecemos ainda, mas a moça me cederia um cigarro?
Ela parou, me olhou com certo desprezo. Não sei ao certo descrever, tinha seriedade no olhar, misturada com benevolência. Não falou nada, apenas me deu o cigarro.
-Obrigado. A propósito, meu nome é Henry. Henry Chinaski.
Ela me olhou com indiferença.
-Você... você tem cara de Ângela. Ângela. Tem um rosto angelical. Que tal uma cerveja?
-...!- Ela continuava emudecida. Apenas elevou uma das sobrancelhas.
-Que tal? Só tem um detalhe. Eu não tenho nem um puto sequer no bolso. Então você é quem vai ter que pagar.
Ela se virou. Eu acendi o cigarro. Ela tornou a cabeça e disse: Vem!
Eu fui. A segui. Fomos até sua casa. Entramos, ela apontou o sofá e foi até a cozinha. Voltou com duas latas de cerveja.
-Gosta?- Me perguntou.
-Antartida! A minha favorita.- Sorri.
Bebemos algumas latas. Não falei muita coisa. Apenas elogiei a casa. Ela permanecia calada. Apenas continuava a me olhar com aqueles olhos frios. Estávamos a uma distância de uns três metros um do outro. Me levantei, me aproximei, pus minha mão em sua nuca e a puxei com força. Dei-lhe um beijo violento. comecei a apalpar-lhe as carnes com vontade. Arranquei-lhe a roupa e quando dei por mim estávamos transando num ritmo estranhamente violento. Era insano, eu nem mesmo sabia seu nome. Porém não me importei. Fodi, fodi com força. Fiz ela gritar e espernear. Ela cravou as unhas na minha pele com tanta força que fiquei em tons de listrados.
Passadas duas horas de violência, finalmente nos encontrávamos desfalecidos sobre o tapete da sala. Fumávamos, olhando para o teto, calados. Eu cá, ela lá. Até que ele soltou:
-O que você faz da vida?
-Eu?- Perguntei- Nada.
-Nada. Não possível que alguém não faça nada!
-Tá... então... eu sou um bilionário excêntrico. É isso.
-Você é mesmo um presunçoso! Henry Chinaski! Tenho cara de burra? Só porque sou loira? Acha que não sei quem foi Bukowski? A julgar pela tatuagem no seu braço você acha mesmo que é algum tipo de discípulo dele.
Continuei calado. Me levantei e pus as calças. Sorri. terminei de me vestir e dei as costas. Ela se levantou, trouxe um pedaço de papel até mim e disse:
-Aqui, meu número. Me liga.
-Claro.- Sorri de novo.
Então parti. Levei apenas mais uma lata de cerva e um cigarro. À poucos metros da casa dela o acendi. Continuei meu caminho, ainda tinha que pensar em alguma desculpa para dar pra minha chefe. O sol já tinha ido repousar. Joguei o pedaço de papel com o telefone fora. Não queria vê-la novamente. Seus olhos me davam medo. Voltei para casa.
Ainda não sei bem ao certo se tudo isso realmente aconteceu ou se foi apenas mais uma vertigem. Como disse antes, o sol tava foda. Queimando minha cuca.

4 comentários:

  1. Te conhecendo, dá a impressão de que foi real. Muito bom a ironia final.

    ResponderExcluir
  2. cara, um ótimo texto fictício...

    ResponderExcluir
  3. To com uma impressão forte de que o sol tava rachando a cuca mesmo..rs

    ResponderExcluir